Passagens sobre Pés

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Frases sobre pés, poemas sobre pés e outras passagens sobre pés para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Hino Ă  SolidĂŁo

Diz-se que a solidĂŁo torna a vida um deserto;
Mas quem sabe viver com a sua alma nunca
Se encontra sĂł; a Alma Ă© um mundo, um mundo
[aberto
Cujo åtrio, a nossos pés, de pétalas se junca.

Mundo vasto que mil existĂȘncias povoam:
Imagens, concepçÔes, formas do sentimento,
— Sonhos puros que nele em beleza revoam
E ficam a brilhar, sĂłis do seu firmamento.

Dia a dia, hora a hora, o Pensamento lavra
Esse fecundo chĂŁo onde se esconde e medra
A semente que vai germinar na Palavra,
Cantar no Som, flores na Cor, sorrir na Pedra!

Basta que certa luz de seus raios aqueça
A semente que jaz na sua leiva escondida,
Para que ela, a sorrir, desabroche e floresça,
De perfumes enchendo as estradas da Vida.

Sei que embora essa luz nem para todos tenha
O mesmo brilho, o mesmo impulso criador,
Da GlĂłria, sempre vĂŁ, todo o asceta desdenha,
Vivendo como um deus no seu mundo interior.

E que mundo sublime, esse em que ele se agita!
Mundo que de si mesmo e em si mesmo criou,

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Stabat Mater

(Stabat Mater)

Estava a mãe de pé, jå sem o filho
que fora a razĂŁo de ter aceite
um quotidiano rasteiro e o prodĂ­gio:
entre ambos, nĂŁo ousava distingui-los.

Traspassara-se quando o viu deixar a casa
para se completar longe das mĂŁos
que o receberam e fizeram crescer,
– nela sempre menino, e tĂŁo inerme
que de si nunca o desprenderia.

Soubera que ele fora domado, escarnecido,
mais bem pago para ser mais proveitoso,
soldado em guerras de outros
em que sempre foi um derrotado;
traĂ­do por mulheres de uma beleza
nĂŁo somente fascĂ­nio e um ardil,
mas perdĂŁo para quem por elas se jogasse.
Mais que ninguĂ©m, ela sofrera-o sem dizĂȘ-lo.

Devolveram-lho por fim, jĂĄ sĂł em parte,
para uni-lo na cama onde nascera.

Tudo nela ruiu, os seus escombros
sĂŁo o mais intenso tĂșmulo,
sem ter onde vå sorver a força
para sumir-se no apagamento
de si mesma e de tudo,
até da manhã que a saudou a anunciar-lhe
o fruto que sua flor tinha alcançado.

E pede que nenhuma luz venha acordĂĄ-la.

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Como, Morte, Temer-te?

Como, morte, temer-te?
NĂŁo estĂĄs aqui comigo, a trabalhar?
NĂŁo te toco em meus olhos; nĂŁo me dizes
que não sabes de nada, que és vazia,
inconsciente e pacĂ­fica? NĂŁo gozas,
comigo, tudo: glĂłria, solidĂŁo,
amor, até tuas entranhas?
NĂŁo me estĂĄs a sustentar,
morte, de pé, a vida?
NĂŁo te levo e trago, cego,
como teu guia? NĂŁo repetes
com tua boca passiva
o que quero que digas? NĂŁo suportas,
escrava, a gentileza com que te obrigo?

Tradução de José Bento

O Que Eu Sou

Nocturna e dubia luz
Meu sĂȘr esboça e tudo quanto existe…
Sou, num alto de monte, negra cruz,
Onde bate o luar em noite triste…

Sou o espirito triste que murmura
Neste silencio lĂșgubre das Cousas…
Eu Ă© que sou o Espectro, a Sombra escura
De falecidas formas mentirosas.

E tu, Sombra infantil do meu AmĂŽr,
És o SĂȘr vivo, o SĂȘr Espiritual,
A Presença radiosa…
Eu sou a DĂŽr,
Sou a tragica Ausencia glacial…

Pois tu vives, em mim, a vida nova,
E eu jĂĄ nĂŁo vivo em ti…
Mas quem morreu?
FĂŽste tu que baixaste ĂĄ fria cova?
Oh, nĂŁo! Fui eu! Fui eu!

Horrivel cataclismo e negra sorte!
Tu fĂŽste um mundo ideal que se desfez
E onde sonhei viver apoz a morte!
Vendo teus lindos olhos, quanta vez,
Dizia para mim: eis o logar
Da minha espiritual, futura imagem…
E viverei ĂĄ luz daquele olhar,
Divino sol de mistica Paisagem.

Era minha ambição primordial
Legar-lhe a minha imagem de saudade;
Mas um vento cruel de temporal,

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Jatir E Coema

JATIR

Desprezo-te, Coema, a velha usança
Que entre nĂłs se pratica… desprezaste:
O bem-vindo estrangeiro abandonaste
Que em mole rede o corpo seu descansa.

Desprezo-te, Coema, bem criança
Em meus braços de ferro te criaste
E neles sempre firme abrigo achaste
Mas pede a tua ação pronta vingança.

COEMA

Senhor das matas, meu Jatir valente,
Tu desconheces este amor ardente,
Choro embalde a teus pés mísera louca!

Afoga-me em teus braços musculosos.
Antes isso, que os beijos asquerosos
Do bem-vindo estrangeiro em minha boca!

A condescendĂȘncia, com o que tinha de indiferença e de mentira, era a grande inimiga da intimidade. A verdade podia fazer muita mossa. Estava longe de ser um valor absoluto. Mas, se ruĂ­a a intimidade, restava o quĂȘ? Sustinha-se de pĂ© o quĂȘ? Sustinha-nos de pĂ© o quĂȘ?

Novas da Corte

As damas nunca parecem
os galantes poucos sĂŁo
cousas de prazer esquecem
os negĂłcios vĂȘm e vĂŁo
nunca minguam, sempre crescem.
NĂŁo hĂĄ jĂĄ nenhum folgar
nem manhas exercitar
Ă© tanto o requerimento
que ninguém não traz o tento
senĂŁo em querer medrar.

Mil pessoas achareis
menos das que cĂĄ leixastes
doutras vos espantareis
porque vĂȘ-las nĂŁo cuidastes
da maneira que vereis.
Uns acabam outros vem
e uns tem outros nĂŁo tem
e os mais polo geral
folgam muito d’ouvir mal
e pouco de dizer bem.

Se cĂĄ sois bem ensinado
cada feira valeis menos
e se mal sois estranhado
dous dias e logo vemos
ficardes mais estimado.
E vai isto de maneira
que na capela cadeira
d’espaldas tem escudeiros
e consentem-lh’os porteiros
estarem na dianteira.

Anda tudo tĂŁo danado
que o que menos merece
se mostra mais agravado
e d’homens que nĂŁo conhece
Ă© el rei emportunado.
E estes que Deos padeça
hão de cobrir a cabeça
perant’ele no serĂŁo
e sĂł por isso lĂĄ vĂŁo
sem haver quem os conheça.

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A uma Mulher

Para tristezas, para dor nasceste.
Podia a sorte pÎr-te o berço estreito
N’algum palĂĄcio e ao pĂ© de rĂ©gio leito,
Em vez d’este areal onde cresceste:

Podia abrir-te as flores — com que veste
As ricas e as felizes — n’esse peito:
Fazer-te… o que a Fortuna hĂĄ sempre feito…
Terias sempre a sorte que tiveste!

Tinhas de ser assim… Teus olhos fitos,
Que nĂŁo sĂŁo d’este mundo e onde eu leio
Uns mistérios tão tristes e infinitos,

Tua voz rara e esse ar vago e esquecido,
Tudo me diz a mim, e assim o creio,
Que para isto sĂł tinhas nascido!

Acho tĂŁo Natural que nĂŁo se Pense

Acho tĂŁo natural que nĂŁo se pense
Que me ponho a rir Ă s vezes, sozinho,
NĂŁo sei bem de quĂȘ, mas Ă© de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa …
Que pensarĂĄ o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas. . .
E entĂŁo desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente. . .
Que pensarĂĄ isto de aquilo?
Nada pensa nada.
TerĂĄ a terra consciĂȘncia das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha…
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as ĂĄrvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver sĂł os meus pensamentos …
Entristecia e ficava Ă s escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.

Encontro-me de pé sob um céu estrelado E sinto como o mundo rasteja no meu sobretudo, para fora e para dentro, qual um formigueiro

Letra para um hino

É possível falar sem um nó na garganta
Ă© possĂ­vel amar sem que venham proibir
Ă© possĂ­vel correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar nĂŁo tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
Ă© possĂ­vel viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer nĂŁo grita comigo: nĂŁo.

É possível viver de outro modo. É
possĂ­vel transformares em arma a tua mĂŁo.
É possível o amor. É possível o pão.
É possĂ­vel viver de pĂ©.

NĂŁo te deixes murchar. NĂŁo deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.

DesĂąnimo

Que mimos me confortam?
Que doce luz me acena?
Eu tenho muita pena
De ter nascido até!

Quizera antes ao pé
D’uma arvore frondosa
Ter jĂĄ em cima a lousa
E descançar emfim!

Alli, nem tu de mim
De certo te lembravas,
Nem estas feras bravas
Me iriam assaltar!

Alli, teria um ar
Mais puro e respiravel,
E a paz imperturbavel
De quem, emfim, morreu!

D’alli, veria o cĂ©o
Ora sereno e puro,
Ora toldado e escuro…
Ainda assim melhor,

Que este areal de amor
Onde ando ao desamparo,
Onde a ninguem sou caro
E nem, a mim, ninguem!

Alli passĂĄra eu bem
A noite derradeira
Á sombra hospitaleira
Que mais ninguem me dĂĄ!

Tu mesma, que nĂŁo ha
Quem eu mais queira e ame,
Quem a minha alma inflamme
De mais ardente amor,

Os ais da minha dĂŽr
A ti o que te importam?
Teus olhos nem supportam
A minha vista ao pé!

Que mimos me confortam?

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Ser Real quer Dizer nĂŁo Estar Dentro de Mim

Seja o que for que esteja no centro do Mundo,
Deu-me o mundo exterior por exemplo de Realidade,
E quando digo «isto é real», mesmo de um sentimento,
Vejo-o sem querer em um espaço qualquer exterior,
Vejo-o com uma visĂŁo qualquer fora e alheio a mim.

Ser real quer dizer nĂŁo estar dentro de mim.
Da minha pessoa de dentro não tenho noção de realidade.
Sei que o Mundo existe, mas nĂŁo sei se existo.
Estou mais certo da existĂȘncia da minha casa branca
Do que da existĂȘncia interior do dono da casa branca.
Creio mais no meu corpo do que na minha alma,
Porque o meu Corpo apresenta-se no meio da realidade.
Podendo ser visto por outros,
Podendo tocar em outros,
Podendo sentar-se e estar de pé,

Mas a minha alma sĂł pode ser definida por termos de fora.
Exista para mim — nos momentos em que julgo que efectivamente existe —
Por um empréstimo da realidade exterior do Mundo.

Se a alma Ă© mais real
Que o mundo exterior, como tu, filĂłsofo, dizes,
Para que Ă© que o mundo exterior me foi dado como tipo da realidade?

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de profundis amamus

Ontem
Ă s onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficĂĄmos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza prĂłpria

AndĂĄmos
dez quilĂłmetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
Ă© da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros

Olha
como sĂł tu sabes olhar
a rua os costumes

O PĂșblico
o vinco das tuas calças
estĂĄ cheio de frio
e hĂĄ quatro mil pessoas interessadas
nisso

NĂŁo faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas nĂŁo te importes
nĂŁo te importes
muito
nĂłs sĂł temos a ver
com o presente
perfeito
corsĂĄrios de olhos de gato intransponĂ­vel
maravilhados maravilhosos Ășnicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso