Passagens sobre PĂ©s

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Frases sobre pés, poemas sobre pés e outras passagens sobre pés para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

NĂŁo Confundas o Amor Com o DelĂ­rio da Posse

Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. Por eu amar a Deus, meto-me a pé pela estrada fora, coxeando penosamente para o levar aos outros homens. E não reduzo o meu Deus à escravatura. E sou alimentado com o que ele dá a outros. Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.

Um Dia Ă© Pouco ao PĂ© de Margarida

A nossa intimidade a trĂŞs ou quatro Ă© constrangida.
Tenho medo no ângor e uma urtiga no pé.
Um dia é pouco ao pé de Margarida:
A ausĂŞncia Ă© menos sozinha,
A muita companhia dá bandos longe. Até
A vida
É
Se tua, já menos minha:
Se prĂłpria de meu, repartida,
Por muitos na atenção, nem tua é.
SĂł nossa solidĂŁo dual e penetrada
Evita o perigo do nada
A que, por condição, setas, as nossas pernas
Apontam na cavidade inexorável,
Fim de molécula qualquer.
Mas, entretanto, Margarida amável
Será flor, ou mulher?

Biografia

Sou aquele a quem busco:
jamais encontrarei a minha sombra.
A noite me acompanha
e sei que luto
com a treva. Combato: sangue a sangue
e corpo a corpo.

Rios sob o meu pulso
escapam ao destino atroz do sono:
durmo com a lembrança
de minha fuga
e o sĂłlido vazio das montanhas.
Sem horizontes.

Avanço com a angústia
prévia: a visão do derradeiro encontro.
Reconheço que canso.
Porque sou surdo:
só ouço a minha voz quando alguém chama
alguém que é outro.

Reconheço um segundo:
crio logo raĂ­zes e sou tronco
sem nenhuma esperança.
Espero tudo
e nĂŁo espero nada que nĂŁo ganhe
outro contorno.

Sou aquele que do hĂşmus
liberta os pés e as pernas sem esforço
até saber que anda
imĂłvel. Fundas
sĂŁo minhas mĂŁos e afundam por instantes.
Encolho os ombros.

Desejo

Oh! quem nos teus braços pudera ditoso
No mundo viver,
Do mundo esquecido no lânguido gozo
D’infindo prazer.

Sentir os teus olhos serenos, em calma,
Falando d’alĂ©m,
D’alĂ©m! duma vida que sonha minha alma,
Que a terra nĂŁo tem.

Eu dera este mundo, com tudo o que encerra
Por tal galardĂŁo:
Tesouros, e glĂłrias, os tronos da terra,
Que valem, que sĂŁo?

A sede que eu tenho nĂŁo morre apagada
Com tal aridez:
Pudesse eu ganhá-los, e iria seu nada
Depor a teus pés.

E sĂł desejando mais doce vitĂłria,
Dizer-te: eis aqui
Meu ceptro e ciĂŞncia, tesouros e glĂłria:
Ganhei-os por ti.

A vida, essa mesma daria contente,
Sem pena, sem dor,
Se um dia embalasses, um dia somente,
Meu sonho d’amor.

Isenta do laço que ao mundo nos prende,
A vida que vale?
A vida Ă© sĂł vida se o amor nela acende
Seu doce fanal.

Aos mundos que eu sonho pudesse eu contigo,
Voando, subir;
Depois que importava? depois no jazigo
Sorrira ao cair.

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Gata Angorá

Sobre a almofada rica e em veludo estofada
caprichosa e indolente como uma odalisca
ela estira seu corpo de pelĂşcia, – e risca
um estranho bordado ao centro da almofada…

Mal eu chego, ela vem… ( nunca a encontrei arisca)
-sempre essa ar de amorosa; a cauda abandonada
como uma pluma solta, pelo chĂŁo deixada,
e o olhar, feito uma brasa acesa que faĂ­sca!

Mal eu chego, ela vem… lânguida, preguiçosa,
roçar pelos meus pés a pelúcia prata,
como a implorar carĂ­cias, tĂ­mida e medrosa…

E tem tal expressĂŁo, e um tal jeito qualquer,
– que Ă s vezes, chego mesmo a pensar que essa gata
traz no corpo escondida uma alma de mulher!

Os Olhos Meus dali Dependurados

Os olhos meus dali dependurados,
Pergunto ao mar, Ă s ondas, aos penedos
Como, quando, por quem foram criados?

Respondem-me em segredo, mil segredos,
Cujas letras primeiras vou cortando
Nos pés de outros mais verdes arvoredos.

Assi com cousas mudas conversando,
Com mais quietação delas aprendo,
Que de outras, que ensinar querem falando.

Se pelejo, se grito, se contendo
Com armas, com razões com argumentos,
Elas sĂł com calar ficam vencendo.

Ferido de tamanhos sentimentos
Fico fora de mim, fico corrido
De ver sobre que fiz meus fundamentos.

Sentimento do Tempo

Os sapatos envelheceram depois de usados
Mas fui por mim mesmo aos mesmos descampados
E as borboletas pousavam nos dedos de meus pés.
As coisas estavam mortas, muito mortas,
Mas a vida tem outras portas, muitas portas.
Na terra, trĂŞs ossos repousavam
Mas há imagens que não podia explicar; me ultrapassavam.
As lágrimas correndo podiam incomodar
Mas ninguém sabe dizer porque deve passar
Como um afogado entre as correntes do mar.
Ninguém sabe dizer porque o eco embrulha a voz
Quando somos crianças e ele corre atrás de nós.
Fizeram muitas vezes minha fotografia
Mas meus pais nĂŁo souberam impedir
Que o sorriso se mudasse em zombaria
E um coração ardente em coisa fria.
Sempre foi assim: vejo um quarto escuro
Onde sĂł existe a cal de um muro.
Costumo ver nos guindastes do porto
O esqueleto funesto de outro mundo morto
Mas não sei ver coisas mais simples como a água.
Fugi e encontrei a cruz do assassinado
Mas quando voltei, como se nĂŁo houvesse voltado,
Comecei a ler um livro e nunca mais tive descanso.

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Pateta: uma pessoa pouco elegante e com uma tendência excessiva para tropeçar nos próprios pés.

Tudo Ă© Fugaz

Considera com frequência a rapidez com que se passam e desaparecem os seres e os acontecimentos. A substância, como um rio, está em perpétuo fluir, as forças em perpétuas mudanças, as cuasas a modificarem-se de mil maneiras; apenas há aí uma coisa estável; e abre-se-nos aos pés o abismo infinito do passado e do futuro onde tudo se some.

A Maior Tortura

A um grande poeta de Portugal

Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite e dia…
E nĂŁo tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite!

E nem flor de lilás tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia! …
A minha pobre MĂŁe tĂŁo branca e fria
Deu-me a beber a Mágoa no seu leite!

Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés.
Sou, como tu, um riso desgraçado!

Mas a minha tortura inda Ă© maior:
NĂŁo ser poeta assim como tu Ă©s
Para gritar num verso a minha Dor!…

Doente

Que negro mal o meu! estou cada vez mais rouco!
Fogem de mim com asco as virgens d’olhar cálido…
E os velhos, quando passo, vendo-me tão pálido,
Comentam entre si: – coitado, está por pouco!…

Por isso tenho Ăłdio a quem tiver saĂşde,
Por isso tenho raiva a quem viver ditoso,
E, odiando toda a gente, eu amo o tuberculoso.
E sĂł estou contente ouvindo um alaĂşde.

Cada vez que me estudo encontro-me diferente,
Quando olham para mim é certo que estremeço;
E vai, pensando bem, sou, como toda a gente,
O contrário talvez daquilo que pareço…

EspĂ­rito irrequieto, fantasia ardente,
Adoro como Poe as doidas criações,
E se nĂŁo bebo absinto Ă© porque estou doente,
Que eu tenho como ele horror às multidões.

E amando doudamente as formas incompletas
Que Ă s vezes nĂŁo consigo, enfim, realizar,
Eu sinto-me banal ao pé dos mais poetas,
E, achando-me incapaz, deixo de trabalhar…

São filhos do meu tédio e duma dor qualquer
Meus sonhos de neurose horrivelmente histéricos
Como as larvas ruins dos corpos cadavéricos,

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Que esforço eu faço para ser eu mesma. Luto contra uma maré em nau onde só cabem meus dois pés em frágil equilíbrio ameaçado.

Acto ou qualquer outra Coisa

Acto ou qualquer outra coisa. Eu sei, aquela mulher
tĂŁo tranquila
vendo da janela do quarto o porto
vendo dos barcos o fumo rente aos mastros
eu sei

essa mulher bem podia ter o nome quando
por detrás da janela observa
outras coisas que nĂŁo sĂŁo barcos e mastros.

Talvez os homenzinhos de azul despertem seus desejos
ou sĂł o azul desbotado, mas nĂŁo
nĂŁo nessa janela nesse porto de cidade que nĂŁo sei
e ela sabe

envolta no vestido, ruivo o cabelo,
envolta nas madeiras da portada.
O chão deve ranger sob os seus pés.

Retrato

Pintar o rosto de Márcia
Com tal primor determino,
Que seja logo seu rosto
Pela pinta conhecido.
Anda doudo de prazer
Seu cabelo por tĂŁo lindo,
Pois mal lhe vai uma onda,
Quando outra já lhe tem vindo.
Sua testa com seus arcos
Do Turco Império castigo
Vencido tem SolimĂŁo,
Meias Luas tem vencido.
Dormidos seus olhos sĂŁo,
Porém Planetas tão ricos
Nunca já foram sonhados,
Bem que sempre sĂŁo dormidos.
A dormir creio se lançam
Por ter de mortais, e vivos
TĂŁo boa fama cobrado,
Nome tĂŁo grande adquirido.
Entre seus raios se mostra
O grande nariz bornido,
Por final que entre seus raios
Prova o nariz de aquilino.
Nas taças de suas faces
Feitas do metal mais limpo,
Como certos Reverendos,
Mistura o branco co’tinto.
As perlas dos dentes alvos,
Os rubins dos beiços finos
Tem desdentado o marfim,
E a cor mais viva comido.
O passadiço da voz
Nem Ă© neve, nem Ă© vidro,
Nem mármore, nem marfim,
Nem cristal, mas passadiço.

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VĂ©nus

I

Ă€ flor da vaga, o seu cabelo verde,
Que o torvelinho enreda e desenreda…
O cheiro a carne que nos embebeda!
Em que desvios a razĂŁo se perde!

PĂştrido o ventre, azul e aglutinoso,
Que a onda, crassa, num balanço alaga,
E reflui (um olfato que se embriaga)
Como em um sorvo, murmura de gozo.

O seu esboço, na marinha turva…
De pé flutua, levemente curva;
Ficam-lhe os pĂ©s atrás, como voando…

E as ondas lutam, como feras mugem,
A lia em que a desfazem disputando,
E arrastando-a na areia, co’a salsugem.

II

Singra o navio. Sob a água clara
VĂŞ-se o fundo do mar, de areia fina…
_ Impecável figura peregrina,
A distância sem fim que nos separa!

Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor de rosa,
Na fria transparĂŞncia luminosa
Repousam, fundos, sob a água plana.

E a vista sonda, reconstrui, compara,
Tantos naufrágios, perdições, destroços!
_ Ă“ fĂşlgida visĂŁo, linda mentira!

RĂłseas unhinhas que a marĂ© partira…
Dentinhos que o vaivĂ©m desengastara…

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Males de Anto

A Ares n’uma aldeia

Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lá! desde o odio ao tedio.
Molestias d’alma para as quaes nĂŁo ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ás vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de Camões!
Sei de cór e salteado as minhas afflicções:
Quiz partir, professar n’um convento de Italia,
Ir pelo Mundo, com os pĂ©s n’uma sandalia…
Comia terra, embebedava-me com luz!
Extasis, spasmos da Thereza de Jezus!
Contei n’aquelle dia um cento de desgraças.
Andava, á noite, só, bebia a noite ás taças.
O meu cavaco era o dos mortos, o das loizas.
Odiava os homens ainda mais, odiava as Coizas.
Nojo de tudo, horror! Trazia sempre luvas
(Na aldeia, sim!) para pegar n’um cacho d’uvas,
Ou n’uma flor. Por cauza d’essas mĂŁos… Perdoae-me,
Aldeões! eu sei que vós sois puros. Desculpae-me.

Mas, atravez da minha dor,

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Um homem precisa viajar, por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros e tevês, precisa viajar, por si, com os olhos e pés, para entender o que é seu

Dormindo

De qual de vĂłs desceu para o exĂ­lio do mundo
A alma desta mulher, astros do céu profundo?
Dorme talvez agora… AlvĂ­ssimas, serenas,
Cruzam-se numa prece as suas mĂŁos pequenas.
Para a respiração suavíssima lhe ouvir,
A noite se debruça… E, a oscilar e a fulgir,
Brande o gládio de luz, que a escuridão recorta,
Um arcanjo, de pé, guardando a sua porta.
Versos! podeis voar em torno desse leito,
E pairar sobre o alvor virginal de seu peito,
Aves, tontas de luz, sobre um fresco pomar…
Dorme… Rimas febris, podeis febris voar…
Como ela, num livor de névoas misteriosas,
Dorme o céu, campo azul semeado de rosas;
E dois anjos do céu, alvos e pequeninos,
VĂŞm dormir nos dois cĂ©us dos seus olhos divinos…
Dorme… Estrelas, velai, inundando-a de luz!
Caravana, que Deus pelo espaço conduz!
Todo o vosso dano nesta pequena alcova
Sobre ela, como um nimbo esplĂŞndido, se mova:
E, a sorrir e a sonhar, sua leve cabeça
Como a da Virgem Mie repouse e resplandeça!