Passagens sobre Pés

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Frases sobre pés, poemas sobre pés e outras passagens sobre pés para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Sentimento do Tempo

Os sapatos envelheceram depois de usados
Mas fui por mim mesmo aos mesmos descampados
E as borboletas pousavam nos dedos de meus pés.
As coisas estavam mortas, muito mortas,
Mas a vida tem outras portas, muitas portas.
Na terra, trĂȘs ossos repousavam
Mas hĂĄ imagens que nĂŁo podia explicar; me ultrapassavam.
As lĂĄgrimas correndo podiam incomodar
Mas ninguém sabe dizer porque deve passar
Como um afogado entre as correntes do mar.
Ninguém sabe dizer porque o eco embrulha a voz
Quando somos crianças e ele corre atrås de nós.
Fizeram muitas vezes minha fotografia
Mas meus pais nĂŁo souberam impedir
Que o sorriso se mudasse em zombaria
E um coração ardente em coisa fria.
Sempre foi assim: vejo um quarto escuro
Onde sĂł existe a cal de um muro.
Costumo ver nos guindastes do porto
O esqueleto funesto de outro mundo morto
Mas nĂŁo sei ver coisas mais simples como a ĂĄgua.
Fugi e encontrei a cruz do assassinado
Mas quando voltei, como se nĂŁo houvesse voltado,
Comecei a ler um livro e nunca mais tive descanso.

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Pateta: uma pessoa pouco elegante e com uma tendĂȘncia excessiva para tropeçar nos prĂłprios pĂ©s.

Tudo Ă© Fugaz

Considera com frequĂȘncia a rapidez com que se passam e desaparecem os seres e os acontecimentos. A substĂąncia, como um rio, estĂĄ em perpĂ©tuo fluir, as forças em perpĂ©tuas mudanças, as cuasas a modificarem-se de mil maneiras; apenas hĂĄ aĂ­ uma coisa estĂĄvel; e abre-se-nos aos pĂ©s o abismo infinito do passado e do futuro onde tudo se some.

A Maior Tortura

A um grande poeta de Portugal

Na vida, para mim, nĂŁo hĂĄ deleite.
Ando a chorar convulsa noite e dia…
E nĂŁo tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite!

E nem flor de lilĂĄs tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia! …
A minha pobre MĂŁe tĂŁo branca e fria
Deu-me a beber a MĂĄgoa no seu leite!

Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés.
Sou, como tu, um riso desgraçado!

Mas a minha tortura inda Ă© maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha Dor!…

Doente

Que negro mal o meu! estou cada vez mais rouco!
Fogem de mim com asco as virgens d’olhar cĂĄlido…
E os velhos, quando passo, vendo-me tĂŁo pĂĄlido,
Comentam entre si: – coitado, estĂĄ por pouco!…

Por isso tenho Ăłdio a quem tiver saĂșde,
Por isso tenho raiva a quem viver ditoso,
E, odiando toda a gente, eu amo o tuberculoso.
E sĂł estou contente ouvindo um alaĂșde.

Cada vez que me estudo encontro-me diferente,
Quando olham para mim é certo que estremeço;
E vai, pensando bem, sou, como toda a gente,
O contrĂĄrio talvez daquilo que pareço…

EspĂ­rito irrequieto, fantasia ardente,
Adoro como Poe as doidas criaçÔes,
E se nĂŁo bebo absinto Ă© porque estou doente,
Que eu tenho como ele horror às multidÔes.

E amando doudamente as formas incompletas
Que Ă s vezes nĂŁo consigo, enfim, realizar,
Eu sinto-me banal ao pé dos mais poetas,
E, achando-me incapaz, deixo de trabalhar…

São filhos do meu tédio e duma dor qualquer
Meus sonhos de neurose horrivelmente histéricos
Como as larvas ruins dos corpos cadavéricos,

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Que esforço eu faço para ser eu mesma. Luto contra uma maré em nau onde só cabem meus dois pés em frågil equilíbrio ameaçado.

Acto ou qualquer outra Coisa

Acto ou qualquer outra coisa. Eu sei, aquela mulher
tĂŁo tranquila
vendo da janela do quarto o porto
vendo dos barcos o fumo rente aos mastros
eu sei

essa mulher bem podia ter o nome quando
por detrĂĄs da janela observa
outras coisas que nĂŁo sĂŁo barcos e mastros.

Talvez os homenzinhos de azul despertem seus desejos
ou sĂł o azul desbotado, mas nĂŁo
nĂŁo nessa janela nesse porto de cidade que nĂŁo sei
e ela sabe

envolta no vestido, ruivo o cabelo,
envolta nas madeiras da portada.
O chão deve ranger sob os seus pés.

Retrato

Pintar o rosto de MĂĄrcia
Com tal primor determino,
Que seja logo seu rosto
Pela pinta conhecido.
Anda doudo de prazer
Seu cabelo por tĂŁo lindo,
Pois mal lhe vai uma onda,
Quando outra jĂĄ lhe tem vindo.
Sua testa com seus arcos
Do Turco Império castigo
Vencido tem SolimĂŁo,
Meias Luas tem vencido.
Dormidos seus olhos sĂŁo,
Porém Planetas tão ricos
Nunca jĂĄ foram sonhados,
Bem que sempre sĂŁo dormidos.
A dormir creio se lançam
Por ter de mortais, e vivos
TĂŁo boa fama cobrado,
Nome tĂŁo grande adquirido.
Entre seus raios se mostra
O grande nariz bornido,
Por final que entre seus raios
Prova o nariz de aquilino.
Nas taças de suas faces
Feitas do metal mais limpo,
Como certos Reverendos,
Mistura o branco co’tinto.
As perlas dos dentes alvos,
Os rubins dos beiços finos
Tem desdentado o marfim,
E a cor mais viva comido.
O passadiço da voz
Nem Ă© neve, nem Ă© vidro,
Nem mĂĄrmore, nem marfim,
Nem cristal, mas passadiço.

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Vénus

I

À flor da vaga, o seu cabelo verde,
Que o torvelinho enreda e desenreda…
O cheiro a carne que nos embebeda!
Em que desvios a razĂŁo se perde!

PĂștrido o ventre, azul e aglutinoso,
Que a onda, crassa, num balanço alaga,
E reflui (um olfato que se embriaga)
Como em um sorvo, murmura de gozo.

O seu esboço, na marinha turva…
De pé flutua, levemente curva;
Ficam-lhe os pĂ©s atrĂĄs, como voando…

E as ondas lutam, como feras mugem,
A lia em que a desfazem disputando,
E arrastando-a na areia, co’a salsugem.

II

Singra o navio. Sob a ĂĄgua clara
VĂȘ-se o fundo do mar, de areia fina…
_ ImpecĂĄvel figura peregrina,
A distĂąncia sem fim que nos separa!

Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor de rosa,
Na fria transparĂȘncia luminosa
Repousam, fundos, sob a ĂĄgua plana.

E a vista sonda, reconstrui, compara,
Tantos naufrågios, perdiçÔes, destroços!
_ Ó fĂșlgida visĂŁo, linda mentira!

RĂłseas unhinhas que a marĂ© partira…
Dentinhos que o vaivĂ©m desengastara…

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Males de Anto

A Ares n’uma aldeia

Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lĂĄ! desde o odio ao tedio.
Molestias d’alma para as quaes nĂŁo ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ĂĄs vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de CamÔes!
Sei de cór e salteado as minhas afflicçÔes:
Quiz partir, professar n’um convento de Italia,
Ir pelo Mundo, com os pĂ©s n’uma sandalia…
Comia terra, embebedava-me com luz!
Extasis, spasmos da Thereza de Jezus!
Contei n’aquelle dia um cento de desgraças.
Andava, å noite, só, bebia a noite ås taças.
O meu cavaco era o dos mortos, o das loizas.
Odiava os homens ainda mais, odiava as Coizas.
Nojo de tudo, horror! Trazia sempre luvas
(Na aldeia, sim!) para pegar n’um cacho d’uvas,
Ou n’uma flor. Por cauza d’essas mĂŁos… Perdoae-me,
AldeÔes! eu sei que vós sois puros. Desculpae-me.

Mas, atravez da minha dor,

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Um homem precisa viajar, por sua conta, nĂŁo por meio de histĂłrias, imagens, livros e tevĂȘs, precisa viajar, por si, com os olhos e pĂ©s, para entender o que Ă© seu

Dormindo

De qual de vĂłs desceu para o exĂ­lio do mundo
A alma desta mulher, astros do céu profundo?
Dorme talvez agora… AlvĂ­ssimas, serenas,
Cruzam-se numa prece as suas mĂŁos pequenas.
Para a respiração suavíssima lhe ouvir,
A noite se debruça… E, a oscilar e a fulgir,
Brande o glĂĄdio de luz, que a escuridĂŁo recorta,
Um arcanjo, de pé, guardando a sua porta.
Versos! podeis voar em torno desse leito,
E pairar sobre o alvor virginal de seu peito,
Aves, tontas de luz, sobre um fresco pomar…
Dorme… Rimas febris, podeis febris voar…
Como ela, num livor de névoas misteriosas,
Dorme o céu, campo azul semeado de rosas;
E dois anjos do céu, alvos e pequeninos,
VĂȘm dormir nos dois cĂ©us dos seus olhos divinos…
Dorme… Estrelas, velai, inundando-a de luz!
Caravana, que Deus pelo espaço conduz!
Todo o vosso dano nesta pequena alcova
Sobre ela, como um nimbo esplĂȘndido, se mova:
E, a sorrir e a sonhar, sua leve cabeça
Como a da Virgem Mie repouse e resplandeça!

A Sésta

Pierrot escondido por entre o amarello dos gyrassois espreita em cautela o somno d’ella dormindo na sombra da tangerineira. E ella nĂŁo dorme, espreita tambem de olhos descidos, mentindo o sĂŽno, as vestes brancas do Pierrot gatinhando silencios por entre o amarelo dos gyrassois. E porque Elle se vem chegando perto, Ella mente ainda mais o sĂŽno a mal-resonar.

Junto d’Ella, nĂŁo teve mĂŁo em si e foi descer-lhe um beijo mudo na negra meia aberta arejando o pĂ© pequenino. Depois os joelhos redondos e lizos, e jĂĄ se debruçava por sobre os joelhos, a beijar-lhe o ventre descomposto, quando Ella acordou cançada de tanto sĂŽno fingir.

E Elle ameaça fugida, e Ella furta-lhe a fuga nos braços nĂșs estendidos.

E Ella, magoada dos remorsos de Pierrot, acaricia-lhe a fronte num grande perdĂŁo. E, feitas as pazes, ficou combinado que Ella dormisse outra vez.

Desobriga

Os meus peccados, Anjo! os meus peccados!
Contar-t’os? Para que, se nĂŁo tĂȘm fim…
Sou santo ao pé dos outros desgraçados,
Mas tu és mais que santa ao pé de mim!

A ti accendo cyrios perfumados,
Faço novenas, queimo-te alecrim,
Quando soffro, me vejo com cuidados…
Nas tuas rezas, lembra-te de mim!

Que eu seja puro d’alma e pensamento!
E que, em dia do grande julgamento,
Minhas culpas nĂŁo sejam de maior:

Pois tenho, que o céu tudo aponta e marca,
Um processo a correr n’essa comarca,
Cujo delegado Ă© Nosso Senhor…

Caminho II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quĂȘ, nem eu o sei.
– Bom dia, companheiro, te saudei,
Que a jornada Ă© maior indo sozinho

É longe, Ă© muito longe, hĂĄ muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei…
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvårio,
E queima como a areia!… Foi no entanto

Que choramos a dor de cada um…
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.

AlguĂ©m caminha a meu lado sem rumor, como se tivesse os pĂ©s nus… A nĂ©voa entra pela boca, ocupa os pulmĂ”es. Perto de Canalazzo flutua e se acumula. O desconhecido torna-se cinza, mais leve; se faz sombra… Sob a casa onde fica o antiquĂĄrio, desaparece de improviso.

Caminho

II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quĂȘ, nem eu o sei.
– Bom dia, companheiro – te saudei,
Que a jornada Ă© maior indo sozinho.

É longe, Ă© muito longe, hĂĄ muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei…
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvårio,
E queima como a areia!… Foi no entanto

Que chorĂĄmos a dor de cada um…
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.