Passagens sobre Pés

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Frases sobre pés, poemas sobre pés e outras passagens sobre pés para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Adormecer

Vai vida na madrugada fria.

O teu amante fica,
na posse deste momento que foi teu,
amorfo e sem limites como um anjo;
a cabeça cheia de estrelas…
Fica abraçado a esta poeira que teu pé levantou.
Fica inĂştil e hirto como um deus,
desfalecendo na raiva de nĂŁo poder seguir-te!

Evitar a Sabedoria de Umbigo

Se alguém se inebria com o seu saber ao olhar para baixo de si, que volte o olhar para cima, rumo aos séculos passados, e abaixará os cornos ao encontrar aí tantos milhares de espíritos que o calcam aos pés. Se ele forma alguma ligeira presunção do seu valor, que se recorde das vidas dos dois Cipiões e dos incontáveis exércitos e povos que o deixam muito para trás. Nenhuma particular qualidade dará motivo de orgulho aquele que, ao mesmo tempo, tiver em conta os muitos traços de imperfeição e debilidade que em si há e, enfim, a nulidade da condição humana.
Porque Sócrates foi o único a compreender acertadamente o preceito do seu Deus, o de conhecer-se a si mesmo, e através de tal estudo, ter chegado a desprezar-se, só ele foi julgado digno de sobrenome de «sábio». Quem assim se conhecer, que tenha a audácia de, pela sua própria boca, o dar a conhecer.

Vaidade

Tua vaidade Ă© como um deus antigo
exige sacrifĂ­cios aos seus pĂ©s…
Olhar-te, Ă© desafiar algum perigo,
amar-te, Ă© procurar algum revĂ©s…

Olhei-te, e desde entĂŁo teus passos sigo…
Amei-te, e mesmo assim. nĂŁo sei quem Ă©s…
Meu amor, pobre amor, quase o maldigo,
talvez seja outra vitima a teus pĂ©s…

Amores, esperanças e desejos
ardem nos castiçais dessa vaidade
ao incenso sensual que há nos teus beijos.. .

Eis que te trago aqui meu coração.
Já de nada me serve, se em verdade
converteu-se a tĂŁo fĂştil religiĂŁo!

A Giganta

No tempo em que a Natura, augusta, fecundanta,
Seres descomunais dava Ă  terra mesquinha,
Eu quisera viver junto d’uma giganta,
Como um gatinho manso aos pĂ©s d’uma rainha!

Gosta de assistir-lhe ao desenvolvimento
Do corpo e da razĂŁo, aos seus jogos terrĂ­veis;
E ver se no seu peito havia o sentimento
Que faz nublar de pranto as pupilas sensĂ­veis

Percorrer-lhe a vontade as formas gloriosas,
Escalar-lhe, febril, as colunas grandiosas;
E Ă s vezes, no verĂŁo, quando no ardente solo

Eu visse deitar, numa quebreira estranha estranha,
Dormir serenamente Ă  sombra do seu colo,
Como um pequeno burgo ao sopé da montanha!

Tradução de Delfim Guimarães

Abnegação

Chovam lĂ­rios e rosas no teu colo!
Chovam hinos de glĂłria na tua alma!
Hinos de glória e adoração e calma,
Meu amor, minha pomba e meu consolo!

Dê-te estrelas o céu, flores o solo,
Cantos e aroma o ar e sombra a palmar.
E quando surge a lua e o mar se acalma,
Sonhos sem fim seu preguiçoso rolo!

E nem sequer te lembres de que eu choro…
Esquece atĂ©, esquece, que te adoro…
E ao passares por mim, sem que me olhes,

Possam das minhas lágrimas cruéis
Nascer sob os teus pés flores fiéis,
Que pises distraĂ­da ou rindo esfolhes!

O Camarim

A luz do sol afaga docemente
As bordadas cortinas de escumilha;
Penetrantes aromas de baunilha
Ondulam pelo tépido ambiente.

Sobre a estante do piano reluzente
Repousa a Norma, e ao lado uma quadrilha;
E do leito francĂŞs nas colchas brilha
De um cão de raça o olhar inteligente.

Ao pé das longas vestes, descuidadas
Dormem nos arabescos do tapete
Duas leves botinas delicadas.

Sobre a mesa emurchece um ramalhete,
E entre um leque e umas luvas perfumadas
Cintila um caprichoso bracelete.

Pesada Noite

A noite cai de bruços,
cai com o peso fundo do cansaço,
cai como pedra, como braço,
cai como um século de cera,
aos tombos, aos soluços,
entre a maçã maciça e a perene pêra,
entre a tarde e o crepĂşsculo,
dilatação da madrugada, elástica,
cai, de borracha,
imitação de músculo,
cai, parecendo que se agacha
na sombra, e feminina, e ágil
salta, com molas de ginástica
nos pés, o abismo
do presságio,
a noite, essa mandĂ­bula do trismo,
tétano e espasmo,
ao mesmo tempo, a noite
amorosa, Ă  espreita do orgasmo,
ferina, mas também açoite,
contraditĂłria
como existir esquecimento
no Ă­ntimo do homem,
na intimidade viva da memĂłria,
reminiscĂŞncias que o consomem
fugindo com o vento,
a noite, a noite acata
tudo que ocorre,
tanto aquele que mata
quanto aquele que morre,
a noite, a sensação e aguda
de um sono
fechando os olhos, invencĂ­vel
como fera que estuda
a vĂ­tima, abandono
completo, fuga, salto
nas garras do impossĂ­vel,
a noite pétrea do basalto,

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Loira

Eu descia o Chiado lentamente
Parando junto Ă s montras dos livreiros
Quando passaste irĂ´nica e insolente,
Mal pousando no chão os pés ligeiros.

O céu nublado ameaçava chuva,
SaĂ­a gente fina de uma igreja;
Destacavam no traje de viĂşva
Teus cabelos de um louro de cerveja.

E a mim, um desgraçado a quem seduzem
Comparações estranhas, sem razão,
Lembrou-me este contraste o que produzem
Os galões sobre os panos de um caixão.

Eu buscava uma rima bem intensa
Para findar uns versos com amor;
Olhaste-me com cega indiferença
Através do lorgnon provocador.

Detinham-se a medir tua elegância
Os dandies com aprumo e galhardia;
Segui-te humildemente e a distância,
NĂŁo fosses suspeitar que te seguia.

E pensava de longe, triste e pobre,
Desciam pela rua umas varinas
Como podias conservar-te sobre
O salto exagerado das botinas.

E tu, sempre febril, sempre inquieta,
Havia pela rua uns charcos de água
Ergueste um pouco a saia sobre a anágua
De um tecido ligeiro e violeta.

Adorável! Na idéia de que agora
A branda anágua a levantasse o vento
Descobrindo uma curva sedutora,

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Rei Destronado

O teu lugar vazĂŁo!… E esteve cheio,
Cheio de mocidade e de ternura!
Como brilhava a tua formosura!
Que luz divina te doirava o seio!

Quando a camisa tépida despias,
– Sob o reflexo do cabelo louro,
De pé, na alcova, ardias e fulgias
Como um Ă­dolo de ouro.

Que fundo o fogo do primeiro beijo,
Que eu te arrancava ao lábio recendente!
Morria o meu desejo… outro desejo
Nascia mais ardente.

Domada a febre, lânguida, em meus braços
Dormias, sobre os linhos revolvidos,
Inda cheios dos Ăşltimos gemidos,
Inda quentes dos Ăşltimos abraços…

Tudo quanto eu pedira e ambicionara,
Tudo meus dedos e meus olhos calmos
Gozavam satisfeitos nos seis palmos
De tua carne saborosa e clara:

Reino perdido! glĂłria dissipada
Tão loucamente! A alcova está deserta,
Mas inda com o teu cheiro perfumada,
Do teu fulgor coberta…

Minhas imperfeições e fracassos são como uma bênção de Deus, assim como meus sucessos e meus talentos, e eu coloco ambos a seus pés.

Fraqueza

Espero-te… E sei bem que eu sĂł que te espero…
Aqui me tens… Constante e eterna Ă© a expectativa!
Por que hei de ser assim sempre ingĂŞnuo e sincero
por mais que experiĂŞncia eu tenha, e a vida eu viva?

Chegarás… e terás uma resposta esquiva
ao que te perguntar… E eu que tanto te quero
renderei novamente a minha alma cativa,
enquanto sorrirás feliz… e eu desespero…

Há um imenso poder nessa tua humildade,
e esse teu ar de mansa ternura e meiguice
estraçalha aos teus pĂ©s toda a minha vontade…

Que fazer? Hei de sempre perdoar o que fazes…
E se choras, nem sei… Esquecendo o que disse
sou eu que enxugo o pranto e ainda proponho as pazes!

A morte pertence à vida, como pertence o nascimento. O caminhar tanto está em levantar o pé como em pousá-lo ao chão.

Soneto 246 Incontinente

Soneto é o mundo inteiro em pouco espaço,
mas, para os mais lacĂ´nicos, prolixo.
O gosto Ă© variado, e o metro, fixo,
e amante deste oxímoro me faço.

A prosa pesa, empilha um calhamaço.
Concisas poesias sĂŁo prefixo.
Somente no soneto gravo e mixo
começo, meio e fim, no exato laço.

Qualquer história, fábula ou idéia
comporta enunciado num soneto,
da simples anedota a uma epopéia.

Apenas dois assuntos, eu prometo,
não cabem no soneto: a diarréia
e o pé, mas porque sobram, não por veto.