Certa vez fiquei tantos minutos sem beber que me senti como se alguém tivesse pisado em minha língua com o pé sujo de barro.
Passagens sobre Pés
670 resultadosDesde a antiguidade, costuma-se dizer que em casa onde existe pé de nêspera não cessam de ocorrer doenças na família. Mas, por outro lado, diz-se que as folhas de nespereira curam muitas doenças. É curioso: folhas que servem como remédio para muitas doenças, também atraem muitas doenças. os mortos devem ser enterrados no cemitério junto ao templo, e ali deve ser plantada uma nespeira. Isto está de acordo com a lei mental segundo a qual ‘as coisas e os fatos atraem aquilo que têm afinidade.
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés. O mesmo sempre, graças ao céu e à terra. E aos meus olhos e ouvidos atentos. E à minha clara simplicidade de alma…
As Pernas Pesadas
Hoje, temos as pernas pesadas com o nosso peso. Andamos a ver onde pomos os pés, a acautelarmo-nos para não cair, porque se partíssemos uma perna era a nossa morte. Sentimos uma tremura invisível nas pernas, e hoje avançou essa tremura para o dobro, e já se nota ao olhar. Os ossos não se dobram da mesma maneira. Até o respirar é muito diferente do que já foi. Dantes, era corrido, era uma coisa em que não reparávamos. Hoje, é precisa mais força para sorver o ar e, quando o sopramos, soltamos um ruído de asma, como se tivéssemos o pescoço meio entupido ou tivéssemos engolido uma gaita enferrujada.
Por Que Falar De Amor ?
“Por Que Falar De Amor ?”
I
Sonhei fazer-te minha só: – rainha!
Quiseste ser apenas cortesã.
E o desejo a crescer, – planta daninha-
foi tornando este amor sem amanhã.Para mim, não bastava seres minha;
quis no céu, por a estrela da manhã,
e acabei por moldar-me ao que convinha
a essa tua paixão de terra chã.Se não deste valor ao coração,
mas aos sentidos, em que se consomem
restos de um erotismo em combustão,por que falar de amor? Foste lograda;
tu não tens aos teus pés o amor de um homem,
tens um fauno de rastros… e mais nada!
A partir do momento em que tomamos uma idéia ao pé da letra, a fé transporta essa coisa para o absurdo.
Tomando a decisão e realmente querendo, os próprios pés o conduzem para a realização.
Quem possui imaginação sem conhecimentos tem asas, mas não pés.
A mentira tem pé curto.
Tempos de Paixão
ah tempos de paixão
desses navios
naufragados no mara corrosão
como um a um os brios
dispostos a mataro mar abriga
junto ao lodo do fundo
a frota amiga
mais a esquadra inimigaé a lei do mundo
que guardas no bom[e
com a tua féah lei que não se aguenta
sobre o pé
Não ligo que me olhem da cabeça aos pés, pois nunca farão a minha cabeça, nem chegarão aos meus pés.
A Essência da Poesia
Não aprendi nos livros qualquer receita para a composição de um poema; e não deixarei impresso, por meu turno, nem sequer um conselho, modo ou estilo para que os novos poetas recebam de mim alguma gota de suposta sabedoria. Se narrei neste discurso alguns sucessos do passado, se revivi um nunca esquecido relato nesta ocasião e neste lugar tão diferentes do sucedido, é porque durante a minha vida encontrei sempre em alguma parte a asseveração necessária, a fórmula que me aguardava, não para se endurecer nas minhas palavras, mas para me explicar a mim próprio.
Encontrei, naquela longa jornada, as doses necessárias para a formação do poema. Ali me foram dadas as contribuições da terra e da alma. E penso que a poesia é uma acção passageira ou solene em que entram em doses medidas a solidão e solidariedade, o sentimento e a acção, a intimidade da própria pessoa, a intimidade do homem e a revelação secreta da Natureza. E penso com não menor fé que tudo se apoia – o homem e a sua sombra, o homem e a sua atitude, o homem e a sua poesia – numa comunidade cada vez mais extensa, num exercício que integrará para sempre em nós a realidade e os sonhos,
Morrer de Amor
Morrer de amor
ao pé da tua bocaDesfalecer
à pele
do sorrisoSufocar
de prazer
com o teu corpoTrocar tudo por ti
se for preciso
Não Somos Capazes de Distinguir o que é Bom e o que é Mau
Quantas vezes um pretenso desastre não foi a causa inicial de uma grande felicidade! Quantas vezes, também, uma conjuntura saudada com entusiasmo não constituiu apenas um passo em direcção ao abismo — elevando um pouco mais ainda alguém em posição eminente, como se em tal posição pudesse estar certo de cair dela sem risco! A própria queda, aliás, não tem em si mesma nada de mal se tomares em consideração o limite para lá do qual a natureza não pode precipitar ninguém. Está bem perto de nós o termo de tudo quanto há, está bem perto, garanto-te, o limite desta existência donde o venturoso se julga expulso e o desgraçado liberto; nós é que, ou por esperanças ou por receios desmesurados, a fazemos mais extensa do que realmente é. Se agires com sabedoria, medirás tudo em função da condição humana, e assim limitarás o espaço tanto das alegrias como dos receios. Vale bem a pena privarmo-nos de duradouras alegrias a troco de não sentirmos duradouros receios!
Por que motivo procuro eu restringir este mal que é o medo? É que não há razão válida para temeres o que quer que seja; nós, isso sim, deixamo-nos abalar e atormentar apenas por vãs aparências.
Erro
Erro é teu. Amei-te um dia
Com esse amor passageiro
Que nasce na fantasia
E não chega ao coração;
Nem foi amor, foi apenas
Uma ligeira impressão;
Um querer indiferente,
Em tua presença vivo,
Nulo se estavas ausente.
E se ora me vês esquivo,
Se, como outrora, não vês
Meus incensos de poeta
Ir eu queimar a teus pés,
É que, — como obra de um dia,
Passou-me essa fantasia.Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras.
Tuas frívolas quimeras,
Teu vão amor de ti mesma,
Essa pêndula gelada
Que chamavas coração,
Eram bem fracos liames
Para que a alma enamorada
Me conseguissem prender;
Foram baldados tentames,
Saiu contra ti o azar,
E embora pouca, perdeste
A glória de me arrastar
Ao teu carro…Vãs quimeras!
Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras…
Profissão De Fé
Meu verso quero enxuto mas sonoro
levando na cantiga essa alegria
colhida no compasso que decoro
com pés de vento soltos na harmonia.Na dança das palavras me enamoro
prossigo passional na melodia
amante da metáfora em meus poros
já vou vagando em vasta arritmia .No vôo aliterado sigo o rumo
dos mares mais remotos navegados
e em faias de catraias me consumo.É meu rito subscrito e bem firmado
sem o temor do velho e seu resumo
num eterno retorno renovado.
Descida
O que tinha de ser já foi… E está perdida
aquela ânsia de espera, de desejo e fé,
e tudo o que virá será cópia esbatida
da Vida que foi Vida e hoje Vida não é…Muito pouco de tudo ainda resta de pé…
Agora, nunca mais estréias… Repetida
a alma se reverá um desespero, até
que a vida já não valha a pena ser vivida…Do que foi canto e flor restam só as raízes,
e ao tédio que envenena os dias mais risonhos
repito: nunca mais estréias… só reprises…E que importa o que vier? Sejam anos ou meses?
– Nunca mais a beleza dos primeiros sonhos!
– Nunca mais a surpresa das primeiras vezes!
As mais exploradas são as mães do nosso povo. Elas estão de mãos e pés amarrados pela dependência econômica. São forçadas a vender-se no mercado do casamento, como suas irmãs prostitutas no mercado público.
Aquele que se eleva nas pontas dos pés não está seguro.
Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.