Poemas de Alexandre Search

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Poemas de Alexandre Search. Conheça este e outros autores famosos em Poetris.

Perseverança

Não digas que o trabalho é desperdiçado,
Nem que o esforço falha ou parece, no fundo;
NĂŁo digas que aquele ao dever curvado
É um entre os tantos sonhos do mundo.

Pois nĂŁo Ă© em vĂŁo que em golpes seguidos,
Com pressa medida, em fragor crescente,
O mar actua nos rochedos batidos
E invade a praia, ruidosamente.

É certo que enfrentam suas investidas,
Do seu bater forte parecem troçar,
Esmagam com força as vagas erguidas
E em espuma fazem as ondas rasgar.

Mas ele bate e bate com força
Em dias, semanas, em meses e anos,
Até que apareça mossa sobre mossa
Que mostre seus gastos, pacientes ganhos.

E os anos passam, as gerações vão,
E menores se quedam as rochas cavadas;
Mas ele, com lenta e firme precisĂŁo,
Baterá na terra suas altas vagas.

Certo como o sol e despercebido
Como duma árvore é o seu crescer,
Trabalha, trabalha sem ser iludido
P’la tenaz imagem que se pode ver.

E quando o seu fim de todo obtém,
Em sonoro embate,

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Homens do Presente

Homens do presente, nada no passado,
Antes de serdes as coisas que vemos,
Quem podia ter sabido ou pensado
Que serĂ­eis hoje aquilo que temos?
Ah, passantes pela mesma via,
Quem pĂ´de pensar-vos antes deste dia?

Homens do presente e pĂł de amanhĂŁ,
Ao passar dos anos aonde ireis ter?
Que rude mudez ou ânsia em pressa vã
Irá registar vossa dor e prazer?
Ondas ou cristas do mar desta vida,
Quem vos pensará passado este dia?

Só o génio pode o fogo atiçar
Que na natureza em vĂłs abrigais;
Só o génio pode a lira tocar
E erguer vosso nome aos céus dos mortais;
O génio pode a morte romper
E o nada de ontem num tudo verter.

Mas a virtude, como os choros humanos,
Pelos areais depressa bebida,
Mergulha no pĂł dos passados anos
E nem sabereis onde está escondida.
Que o génio, então, possa ser laureado;
Que o pĂł de amanhĂŁ seja eternizado.

Piedade? NĂŁo!

Piedade? NĂŁo! NĂŁo a desejo.
Ela seria escárnio maior,
Cruel desdém feito gracejo
Com olhar sério para conter
A rude graça. Não! A dor
Eu chore em paz. Deixem doer!

Piedade? Não! Escárnio venha,
Mais indiferença e mais desdém:
Confortos desses meu lar os tenha.
Mudar em pena o seu olhar
Já dor de mais fora também.
Fingir bondade, nĂŁo pode ser.
Que os males pareçam como eles são.
Querer mascará-los é escarnecer,
Rara malícia sem coração.

Fraternidade

RazĂŁo nĂŁo tenho para os homens amar
Nem eles uma para amar-me tĂŞm;
Ă€ sua vileza cego nĂŁo sei estar
E toda a vileza também eles vêem.

Ă“dio em palavras, por saciar,
Sabendo já que por todos seria
Incompreendido; fosse eu falar
E deles ignoto continuaria.

Um Ăłdio mĂştuo que de instinto vem
Oculto em sorrisos, mal nos suportando.
A bondade humana, conheço-a bem;
Odeio os homens, «irmãos» lhes chamando.

Mania da DĂşvida

Tudo para mim Ă© um duvidar
Com a normalidade sempre em cisĂŁo,
E o seu incessante perguntar
Cansa meu coração.
As coisas são e parecem e o nada sustém
O segredo da vida que contém.

A presença de tudo sempre perguntando
Coisas de angĂşstia premente,
Em terrível hesitação experimentando
A minha mente.
É falsa a verdade? Qual o seu aparentar
Já que tudo são sonhos e tudo é sonhar?

Perante o mistério vacila a vontade
Em luta dividida dentro do pensar,
E a RazĂŁo cede, qual cobarde,
No encontrar
Mais do que as coisas em si revelam ser,
Mas que elas, por si sĂł, nĂŁo deixam ver.

Quem Sonha Mais?

Quem sonha mais, vais-me dizer —
Aquele que vĂŞ o mundo acertado
Ou o que em sonhos se foi perder?

O que é verdadeiro? O que mais será —
A mentira que há na realidade
Ou a mentira que em sonhos está?

Quem está da verdade mais distanciado —
Aquele que em sombra vĂŞ a verdade
Ou o que vĂŞ o sonho iluminado?

A pessoa que Ă© um bom conviva, ou esta?
A que se sente um estranho na festa?

O Mundo

O mundo, tal como o entendo,
Não vai além daquilo que o cego
De cor e sombra pode encontrar
Na escuridĂŁo que Ă© a sua sina;
Este mundo, imenso e luzente,
O qual nĂłs viemos herdar
Com um orgulho inconsciente,
Vale tanto quanto as nossas rimas
E haveres, sua lama dourada —
Nada, Ă© o mais que dele vou falar
E aqui, no leito do nada,
Para o outro lado vou-me voltar.