Não Sei se Isto é Amor
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos.Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno…
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.Eu não sei se é amor. Será talvez começo…
Eu não sei que mudança a minha alma pressente…
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Poemas sobre Amor de Camilo Pessanha
4 resultadosCrepuscular
Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d’ais comprimidos…
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.
As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados,
Sentem-se espasmos, agonias d’ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas…
_ Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.
As tuas mãos tão brancas d’anemia…
Os teus olhos tão meigos de tristeza…
_ É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.
Voz Débil que Passas
Voz débil que passas,
Que humílima gemes
Não sei que desgraças…
Dir-se-ia que pedes.
Dir-se-ia que tremes,
Unida às paredes,
Se vens, às escuras,
Confiar-me ao ouvido
Não sei que amarguras…
Suspiras ou falas?
Porque é o gemido,
O sopro que exalas?
Dir-se-ia que rezas.
Murmuras baixinho
Não sei que tristezas…
_ Ser teu companheiro? _
Não sei o caminho.
Eu sou estrangeiro.
_ Passados amores? _
Animas-te, dizes
Não sei que terrores…
Fraquinha, deliras.
_ Projetos felizes? _
Suspiras. Expiras.
Rufando Apressado
Rufando apressado,
E bamboleado,
Boné posto ao lado,Garboso, o tambor
Avança em redor
Do campo de amor…Com força, soldado!
A passo dobrado!
Bem bamboleado!Amores te bafejem.
Que as moças te beijem.
Que os moços te invejem.Mas ai, ó soldado!
Ó triste alienado!
Por mais exaltadoQue o toque reclame,
Ninguém que te chame…
Ninguém que te ame…