SĂł o Amor me Interessa
Nesta fase em que sĂł o amor me interessa
o amor de quem quer que seja
do que quer que seja
o amor de um pequeno objecto
o amor dos teus olhos
o amor da liberdadeo estar Ă janela amando o trajecto voado
das pombas na tarde calmanesta fase em que o amor é a música de rádio
que atravessa os quintais
e a criança que corre para casa
com um pão debaixo do braçonesta fase em que o amor é não ler os jornais
podes vir podes vir em qualquer caravela
ou numa nuvem ou a pé pelas ruas
– aqui está uma janela acolá voam as pombas –podes vir e sentar-te a falar com as pálpebras
pĂ´r a mĂŁo sob o rosto e encher-te de luzporque o amor meu amor Ă© este equilĂbrio
esta serenidade de coração e árvores
Poemas sobre Amor de Egito Gonçalves
3 resultadosCom Palavras
Com palavras me ergo em cada dia!
Com palavras lavo, nas manhĂŁs, o rosto
e saio para a rua.
Com palavras – inaudĂveis – grito
para rasgar os risos que nos cercam.
Ah!, de palavras estamos todos cheios.
PossuĂmos arquivos, sabemo-las de cor
em quatro ou cinco lĂnguas.
Tomamo-las Ă noite em comprimidos
para dormir o cansaço.
As palavras embrulham-se na lĂngua.
As mais puras transformam-se, violáceas,
roxas de silĂŞncio. De que servem
asfixiadas em saliva, prisioneiras?
PossuĂmos, das palavras, as mais belas;
as que seivam o amor, a liberdade…
Engulo-as perguntando-me se um dia
as poderei navegar; se alguma vez
dilatarei o pulmĂŁo que as encerra.
Atravessa-nos um rio de palavras:
Com elas eu me deito, me levanto,
e faltam-me palavras para contar…
AnĂşncio no Ar
CĂ©us, nuvens, ondas, ventos,
dai-me notĂcias do meu amor norueguĂŞs.Elementos da natureza gastos por tantos versos,
ferralha romântica, brilhai de novo
e trazei-me notĂcias do meu amor norueguĂŞs.Aquela que eu amei um verĂŁo na praia
– pĂ©rola cuja ostra era um barco de carvĂŁo,
matrĂcula de Bergen, essa mesma, elementos!,
notĂcias, notĂcias do meu amor norueguĂŞs.A que veio dos fiordes e vivia num barco
encostado ao cais, junto de um guindaste;
a que me acendeu a manhĂŁ do amor,
a que abriu a porta Ă s tempestades,
a que me deu a chave da invenção…
Existe? Fugiu Ă ocupação? Morreu prisioneira?NotĂcias, notĂcias do seu rosto que mal lembro,
do seu corpo de caule adolescente…
NotĂcias do seixo branco que trocámos
com palavras de amor em inglĂŞs mal decorado.NotĂcias da que foi espiga mal madura,
notĂcias do meu amor norueguĂŞs.