A Felicidade é um Túnel
o domínio
o erotismo do domínio
do domínio irrisório
mas enormesubmeter
ver tremer
ver o tremor do outrovencer
o gelo
o desdém
veloza felicidade é um túnel
Poemas de Ana Hatherly
12 resultadosEsta Noite Morrerás
Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e aquele que procurar a marca dos teus passos
encontra urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e uma gota de sangue ressequido
é a marca dos teus passos.
No coração do tempo pulsa um maquinismo ínscio
e na casa do tempo a hora é adorno.
Quando a lua vier tocar-me o rosto a tua sombra extinta marca
o fim de um eclipse horário de uma partida iminente e o tempo
apaga a marca dos teus passos sobre o meu nome.
Constante.
O mar é isso.
A lua vir tocar-me o rosto e encontrar urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
O mar é tu morreste.
O mar é ser noite e vir a lua tocar-me o rosto quando tu par-
tiste e no meu leito crescem folhas sangue.
A febre é uma pira incompreensível como a aparição da lua
e a opacidade do mar.
No meu leito a lua vai tocar-me o rosto e a tua ausência é um
prisma,
A Humildade
a humildade
o desenfreio em tipo pequeno
antídoto aos dédalos
assoma
assombra
ensombraoh que embargo
que aspas
que estacionário capricho
Um Homem que Está
um homem que está
no meio da entreaberta porta
apenas não fechada ainda
ou já
está
entrando ou saindo dela
já
lividamente ou putrefacto
já
um homem está
na entreaberta
entretanto
porta
apenas não fechada ainda
ou já
O Calendário Ardente dos Teus Dias
o calendário ardente dos teus dias
a lista das tuas agoniascomo se atreve
como não ousa serenar
serenar-teno ímpeto fugidio e secreto
o sorriso
a alva gravidade do estilo
A Invenção da Resposta
a invenção da resposta
outrora
em riste
o passo mítico espantoso condensava
da santidade
o insurrecto pudor
o gelo do rubor
a pressa cerradaagora
em triste
vacuidade
o desafio que expande
cede
degola
o desgarrado nexo do rasgo
Esta Gente / Essa Gente
O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o denteGente que não seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocementeGente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a menteGente que enterre o dente
que fira de unha e dente
e mostre o dente potente
ao prepotenteO que é preciso é gente
que atire fora com essa genteEssa gente dominada por essa gente
não sente como a gente
não quer
ser dominada por genteNENHUMA!
A gente
só é dominada por essa gente
quando não sabe que é gente
O Poeta é um Guardador
o poeta é um guardador
guarda a diferença
guarda da indiferençano incerto
guarda a certeza da voz
Quanto Ódio
quanto ódio
diz
quanto ódio
não sabes
tens
dentro de tio deferente tapete da palavra
a rede bélica
os rasgos secundáriosTUDO
engendra
articula
atavia
a sala da tua fala
Saber
saber
é saber saber-te
sabermo-nos unirunirmo-nos
é conhecermo-nos
sabermos serpor fim sermos
é sabermos
sabermo-nosconhecermos
a surda áspide
Um Calculador de Improbabilidades
O poeta é
um calculador de improbabilidades limita
a informação quantitativa fornecendo
reforçada informação estésica.
É uma máquina eta-erótica em que as discrepâncias
são a fulgurância da máquina.
A crueldade elegante da máquina resulta da
competição pirotécnica da circulação íntima
e fulgurante do seu maquinismo erótico.
A psicologia do maquinal sabe que basta
que se crie um pólo positivo para que o pólo
negativo surja
ou vice-versa
e as evoluções telecinéticas pela força
das catástrofes desenvolvem suas faculdades
latentes ou absorvem-nas como a esponja absorve
as águas variáveis dos humores
que transforma em polaridade.
O maquinal eta-erótico está em astrogação
curso hipnótico dos polímeros.
Digo com precisão fenomenológica: o maquinal
circula em sua hiperesfera da maneira mais
excêntrica.
Digo e garanto:
o maquinal absolutamente absorve suas águas
variáveis e isso é o seu amplexo.
O maquinal eta-erótico é tu-eu.
O maquinal tu-eu
cuja tarefa árdua não é
definir a verdade está no meio da profusão
dos objectos
e considera o consumo a verdade deslocada
deslocação de grande tonelagem
laboriosa alfaiataria de eros
constante moribunda
e esse opróbrio dispersivo e vexável
indifere a vida esponjosa.
Príncipe
Príncipe:
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.