Ode à Esperança
1
Vem, vem, doce Esperança, Ăşnico alĂvio
Desta alma lastimada;
Mostra, na c’roa, a flor da Amendoeira,
Que ao Lavrador previsto,
Da Primavera próxima dá novas.2
Vem, vem, doce Esperança, tu que animas
Na escravidĂŁo pesada
O aflito prisioneiro: por ti canta,
Condenado ao trabalho,
Ao som da braga, que nos pés lhe soa,3
Por ti veleja o pano da tormenta
O marcante afouto:
No mar largo, ao saudoso passageiro,
(Da sposa e dos filhinhos)
Tu lhe pintas a terra pelas nuvens.4
Tu consolas no leito o lasso enfermo,
C’os ares da melhora,
Tu dás vivos clarões ao moribundo,
Nos já vidrados olhos,
Dos horizontes da Celeste Pátria.5
Eu já fui de teus dons também mimoso;
A vida largos anos
Rebatida entre acerbos infortĂşnios
A sustentei robusta
Com os pomos de teus vergéis viçosos.6
Mas agora, que Márcia vive ausente;
Que nĂŁo me alenta esquiva
C’o brando mimo dum de seus agrados,
Poemas sobre Anos de Filinto ElĂsio
2 resultadosÀ Minha Morte
Sei, que um dia fatal me espera, e talha
A minha vida o estame:
Nem Prosérpina evita uma só frente.
Sei que vivi: mas quando
Tem de soltar-se, ignoro, o vivo laço;
E se claros, ou turvos
Se hão-de erguer para mim os sóis vindouros. —
Pois, que ao sevo Destino
Me Ă© vedado fugir, fugi ao longe
Roazes Amarguras,
Que estes permeios anos minar vĂnheis.
Rir quero — e mui folgado,
De vos ver ir correndo, de encolhidas,
Escondendo na fuga,
As caudas dos medonhos ameaços.
Quero, entre mil saĂşdes,
De vermelha, faustĂssima alegria
Ir passando em resenha,
Taça após taça, a lista dos amigos,
E o coro das formosas,
Que a vida me entreteram com agrado.
E reforçado e lesto
C’o nĂ©ctar da videira, as mĂŁos travando
Co’as engraçadas Musas,
Em dança festival, com pé ligeiro,
Na matizada relva,
Cansar de tanto jĂşbilo o meu sp’rito,
Que se vá (sem que o sinta)
Continuar o baile nos ElĂsios)
Entre o Garção e Horácio.
De lá, em novas Odes,