Poema Explicativo
Inúteis são os voos. Inúteis são os pássaros.
Silenciosas sombras tudo extinguem.
Como as vagas de um mar longĂnquo e frio,
sĂŁo de inĂşteis palavras estes versos,
pois o calado tempo esmaga tudo.Moro num rio inĂştil que caminha
entre margens de musgo e subalternas
pontes e águas que reflectem
estrelas, luminárias, desencanto.Os peixes não obstante já não dormem.
SĂŁo inĂşteis os sonhos e as amarras
que nos prendem ao cais.
E o sangue que nos leva
em artérias eléctricas de desejo.Já somos todos poetas — e a poesia é inútil —
antepassados simples de um futuro
remoto onde seremos sinais na rocha, apenas.Germinará o trevo entre os alexandrinos
e nenhum pássaro compreenderá o sentido
das páginas dispersas sobre a areia.Estas palavras nuas se transformarão
em pĂł, em lodo, em traças e raĂzes.
Poemas sobre Antepassados
3 resultadosGuerra & Paz
Pedidos sacrifĂcios, as imagens
Foram trazidas na maré, enxutas.
Treme a escada torpe, e o cĂŁo ladra –
SĂŁo os antepassados, fixos,
Na água das janelas.
Que podemos fazer, o fumo
Entra nas casas Ă© preciso
Uma porta que nos leve ao mar.
Responso
I
Num castelo deserto e solitário,
Toda de preto, Ă s horas silenciosas,
Envolve-se nas pregas dum sudário
E chora como as grandes criminosas.Pudesse eu ser o lenço de Bruxelas
Em que ela esconde as lágrimas singelas.II
É loura como as doces escocesas,
Duma beleza ideal, quase indecisa;
Circunda-se de luto e de tristezas
E excede a melancĂłlica Artemisa.Fosse eu os seus vestidos afogados
E havia de escutar-lhe os seu pecados.III
Alta noite, os planetas argentados
Deslizam um olhar macio e vago
Nos seus olhos de pranto marejados
E nas águas mansĂssimas do lago.Pudesse eu ser a Lua, a Lua terna,
E faria que a noite fosse eterna.IV
E os abutres e os corvos fazem giros
De roda das ameias e dos pegos,
E nas salas ressoam uns suspiros
Dolentes como as sĂşplicas dos cegos.Fosse eu aquelas aves de pilhagem
E cercara-lhe a fronte, em homenagem.V
E ela vaga nas praias rumorosas,
Triste como as rainhas destronadas,