Névoa
A Albano Nogueira
Abraçada à noite,
a névoa desce sobre a terra.Imprecisamente,
como se a névoa fosse dos meus olhos,
vejo o casario e as luzes da outra margem do rio.
Mais à direita, ao longe,
são já da névoa a praia, o mar.
Ouve-se apenas o ronco do farol
– um som molhado.
Para o lado dos pinhais,
anda a bruma a fazer medo
e a pôr mais pressa nos passos de quem foge.Não há luar, não há estrelas.
De novo, olho para o rio.
Não sei se o vejo:
anda a névoa, já, com ele,
e os meus olhos não dizem o que é bruma, o que é rio.
E ela não pára,
avança ao meu encontro.Cerca-me.
E eu tenho, só,
orvalho nas árvores do jardim,
gotas de água que se partem na alameda,
o ar húmido que me trespassa,
o molhado ronco do farol,
os cabelos encharcados
e pensamentos de névoa…
Poemas sobre Ar de Alberto de Serpa
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Ambiente
A Alexandre de Médicis
A rua é tão estreita
que o luar mal chega às pedras
que pisei, ao vir aqui.A casa tem pior fama
do que a rua, onde só passa
quem não tem outro caminho.A sala, onde vim juntar-me
com a baixeza da vida,
tem menos luz do que a rua
e os olhos não têm estrelas.
Há uma mulher perdida
que diz a sua desgraça.
Um marinheiro possante
fala de terras, do mar,
e as suas mãos têm saudade
da guitarra que está longe…Anda, no ar, perturbante,
um cheiro de vinho novo
que enjoa, mas faz querê-lo
junto com reles comidas.O pensamento da gente
não se fixa em coisa alguma:
vai como nota de música…As almas estão com sono.
As horas passam
sem se dar por elas…… E só longe
alguém cantará o fado.