Como se Morre de Velhice
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
nĂŁo tem eco, na ausĂȘncia imensa.Na ausĂȘncia, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estĂmulo ou recompensa
onde o amor equivale Ă ofensa.De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.(Jå não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
Poemas sobre Areia de CecĂlia Meireles
4 resultadosCanção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
â depois, abri o mar com as mĂŁos,
para o meu sonho naufragar.Minhas mĂŁos ainda estĂŁo molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da ĂĄgua vai morrendo
meu sonho, dentro de um navioâŠ
O Tempo Seca o Amor
O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas ĂĄguas.O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lågrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frĂĄgil arabesco,
vestĂgio do musgo humano,
na densa turfa mortuĂĄria.Esperarei pelo tempo
com suas conquistas ĂĄridas.
Esperarei que te seque,
nĂŁo na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.
Apresentação
Aqui estĂĄ minha vida â esta areia tĂŁo clara
com desenhos de andar dedicados ao vento.Aqui estĂĄ minha voz â esta concha vazia,
sombra de som curtindo o seu prĂłprio lamento.Aqui estĂĄ minha dor â este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patĂ©tico momento.Aqui estĂĄ minha herança â este mar solitĂĄrio,
que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.