Como se Morre de Velhice
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
nĂŁo tem eco, na ausĂȘncia imensa.Na ausĂȘncia, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estĂmulo ou recompensa
onde o amor equivale Ă ofensa.De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.(Jå não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
Poemas sobre AusĂȘncia de CecĂlia Meireles
3 resultadosDe Longe Te Hei-de Amar
De longe te hei-de amar
– da tranquila distĂąncia
em que o amor Ă© saudade
e o desejo, constĂąncia.Do divino lugar
onde o bem da existĂȘncia
Ă© ser eternidade
e parecer ausĂȘncia.Quem precisa explicar
o momento e a fragrĂąncia
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogĂąncia?E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violĂȘncia,
cumpre a sua verdade,
alheia Ă transparĂȘncia.
Personagem
Teu nome Ă© quase indiferente
e nem teu rosto jĂĄ me inquieta.
A arte de amar Ă© exactamente
a de se ser poeta.Para pensar em ti, me basta
o prĂłprio amor que por ti sinto:
Ă©s a ideia, serena e casta,
nutrida do enigma do instinto.O lugar da tua presença
Ă© um deserto, entre variedades:
mas nesse deserto Ă© que pensa
o olhar de todas as saudades.Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silĂȘncio, obscuro, disperso.Teu corpo, e teu rosto, e teu nome,
teu coração, tua existĂȘncia,
tudo – o espaço evita e consome:
e eu sĂł conheço a tua ausĂȘncia.Eu sĂł conheço o que nĂŁo vejo.
E, nesse abismo do meu sonho,
alheia a todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.