Poemas sobre AusĂȘncia de Mia Couto

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Poemas de ausĂȘncia de Mia Couto. Leia este e outros poemas de Mia Couto em Poetris.

Amei-te sem Saberes

No avesso das palavras
na contrĂĄria face
da minha solidĂŁo
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptĂ­vel crescer
como carne da lua
nos nocturnos lĂĄbios entreabertos

E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar

No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepĂșsculo e alvorada

Para me acostumar
Ă  tua intermitente ausĂȘncia
ensinei Ă s timbilas
a espera do silĂȘncio

Fala de MĂŁe e Filho

«Meu filho:
onde vais
que tens do rio o caminhar?»

NĂŁo espreites a estrada, mĂŁe,
que eu nasci
onde o tempo se despenhou.

«Meu filho:
onde te posso lembrar
se apenas te dei nome para te embalar ?»

MĂŁe, minha mĂŁe:
nĂŁo te pese saudade
que eu voltarei sempre
como quem chega do mar.

«Meu filho:
onde te posso nascer
se meu ventre seco
nunca ninguém gerou?»

MĂŁe, nascerĂĄs sempre
na pedra em que te escuto:
a tua ausĂȘncia, meu luto,
teu corpo para sempre insepulto.