LĂngua Portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela
Amo-se assim, desconhecida e obscura
Tuba de algo clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, Ăł rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exĂlio amargo,
O gĂŞnio sem ventura e o amor sem brilho!
Poemas sobre Belos de Olavo Bilac
4 resultadosVelha Página
Chove. Que mágoa lá fora!
Que mágoa! Embruscam-se os ares
Sobre este rio que chora
Velhos e eternos pesares.E sinto o que a terra sente
E a tristeza que diviso,
Eu, de teus olhos ausente,
Ausente de teu sorriso…As asas loucas abrindo,
Meus versos, num longo anseio,
MorrerĂŁo, sem que, sorrindo,
Possa acolhĂŞ-los teu seio!Ah! quem mandou que fizesses
Minh’alma da tua escrava,
E ouvisses as minhas preces,
Chorando como eu chorava?Por que Ă© que um dia me ouviste,
Tão pálida e alvoroçada,
E, como quem ama, triste,
Como quem ama, calada?Tu tens um nome celeste…
Quem Ă© do cĂ©u Ă© sensĂvel!
Por que Ă© que me nĂŁo disseste
Toda a verdade terrĂvel?Por que, fugindo impiedosa,
Desertas o nosso ninho?
– Era tĂŁo bela esta rosa!…
Já me tardava este espinho!Fora melhor, porventura,
Ficar no antigo degredo
Que conhecer a ventura
Para perdĂŞ-la tĂŁo cedo!Por que me ouviste, enxugando
O pranto das minhas faces?
Sacrilégio
Como a alma pura, que teu corpo encerra,
Podes, tĂŁo bela e sensual, conter?
Pura demais para viver na terra,
Bela demais para no cĂ©u viver.Amo-te assim! – exulta, meu desejo!
É teu grande ideal que te aparece,
Oferecendo loucamente o beijo,
E castamente murmurando a prece!Amo-te assim, Ă fronte conservando
A parra e o acanto, sob o alvor do véu,
E para a terra os olhos abaixando,
E levantando os braços para o céu.Ainda quando, abraçados, nos enleva
O amor em que me abraso e em que te abrasas,
Vejo o teu resplandor arder na treva
E ouço a palpitação das tuas asas.Em vão sorrindo, plácidos, brilhantes,
Os céus se estendem pelo teu olhar,
E, dentro dele, os serafins errantes
Passam nos raios claros do luar:Em vĂŁo! – descerras Ăşmidos, e cheios
De promessas, os lábios sensuais,
E, Ă flor do peito, empinam-se-te os seios,
Ameaçadores como dois punhais.Como é cheirosa a tua carne ardente!
Toco-a, e sinto-a ofegar, ansiosa e louca.
Mater
Tu, grande MĂŁe!… do amor de teus filhos escrava,
Para teus filhos Ă©s, no caminho da vida,
Como a faixa de luz que o povo hebreu guiava
Ă€ longe Terra Prometida.Jorra de teu olhar um rio luminoso.
Pois, para batizar essas almas em flor,
Deixas cascatear desse olhar carinhoso
Todo o JordĂŁo do teu amor.E espalham tanto brilho as asas infinitas
Que expandes sobre os teus, carinhosas e belas,
Que o seu grande dano sobe, quando as agitas,
E vai perder-se entre as estrelas.E eles, pelos degraus da luz ampla e sagrada,
Fogem da humana dor, fogem do humano pé,
E, Ă procura de Deus, vĂŁo subindo essa escada,
Que Ă© como a escada de JacĂł.