Romance do Terceiro-Oficial de Finanças

Ah! as coisas incrĂ­veis que eu te contava
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!

As coisas incrĂ­veis que eu te contava
e me deixavam hirto de surpresa
na solidão da vila quieta!…
Que eu vinha alta noite
como quem vem de longe
e sabe o segredo dos grandes silĂŞncios
– os meus braços no jeito de pedir
e os meus olhos pedindo
o corpo que tu mal debruçavas da varanda!…

(As coisas incrĂ­veis eu sĂł as contava
depois de as ouvir do teu corpo, da noite
e da estrela, por cima dos teus cabelos.
Aquela estrela que parecia de propĂłsito para enfeitar os teus cabelos
quando eu ia namorar-te…)

Mas tudo isso, que era tudo para nĂłs,
não era nada da vida!…
Da vida Ă© isto que a vida faz.
Ah! sim, isto que a vida faz!…
– isto de tu seres a esposa séria e triste
de um terceiro-oficial de finanças da Câmara Municipal!…