Poemas sobre Campo de Carlos Nejar

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Poemas de campo de Carlos Nejar. Leia este e outros poemas de Carlos Nejar em Poetris.

Nas Altas Torres

Nas altas torres do corpo
todas as horas cantavam.
Eu quis ficar mais um pouco
como se um campo de potros
espantasse a madrugada.

Eu quis ficar mais um pouco
e o teu corpo e o meu tocavam
inquietudes, caminhos,
noites, nĂșmeros, datas.

Nas altas torres do corpo
eu quis ficar mais um pouco
e o silĂȘncio nĂŁo deixava.
ConjugĂĄmos mĂŁos e peitos
no mesmo leito, trançados;
eis que surgiu outro peito,
o do tempo atravessado.

Eu quis ficar mais um pouco
e o teu corpo se iniciava
na liturgia do vento,
lenta e veloz como enxada.
Era a semente batendo,
era a estrela debulhada.

Nas altas torres do corpo,
quis ficar. Amanhecia.
Todos os pombos voavam
das altas torres do corpo.
As horas resplandeciam.

Contra a Esperança

É preciso esperar contra a esperança.
Esperar, amar, criar
contra a esperança
e depois desesperar a esperança
mas esperar,
enquanto um fio de ĂĄgua, um remo,
peixes
existem e sobrevivem
no meio dos litĂ­gios;
enquanto bater a mĂĄquina de coser
e o dia dali sair
como um colete novo.

É preciso esperar
por um pouco de vento,
um toque de manhĂŁs.
E nĂŁo se espera muito.
SĂł um curto-circuito
na lembrança. Os cabelos,
ninhos de andorinhas
e chuvas. A esperança,
cachorro
a correr sobre o campo
e uma pequena lebre
que a noite em vĂŁo esconde.

O universo Ă© um telhado
com sua calha tĂŁo baixo
e as estrelas, enxame
de abelhas na ponta.

É preciso esperar contra a esperança
e ser a mĂŁo pousada
no leme de sua lança.

E o peito da esperança
Ă© nĂŁo chegar;
seu rosto Ă© sempre mais.
É preciso desesperar
a esperança
como um balde no mar.

Um balde a mais
na esperança.

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