Poemas sobre Carreira

7 resultados
Poemas de carreira escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Amor o Quis assim

Agravos de ColopĂŞndio
Pois Amor o quis assi,
que meu mal tanto me dura,
nĂŁo tardes triste ventura,
que a dor nĂŁo se doi de mi,
e sem ti nĂŁo tenho cura.

Foges-me, sabendo certo
que passo perigo marinho,
e sem ti vou tĂŁo deserto
que, quando cuido que acerto,
vou mais fora de caminho.
Porque tais carreiras sigo,
e com tal dita naci
nesta vida, em que nĂŁo vivo,
que eu cuido que estou comigo,
e ando fora de mi.

Quando falo, estou calado;
quando estou, entonces ando;
quando ando, estou quedado;
quando durmo, estou acordado;
quando acordo, estou sonhando;
quando chamo, entĂŁo respondo;
quando choro, entonces rio;
quando me queimo, hei frio;
quando me mostro, me escondo;
quando espero, desconfio.

NĂŁo sei se sei o que digo,
que cousa certa nĂŁo acerto;
se fujo de meu perigo,
cada vez estou mais perto
de ter mor guerra comigo.
Prometem-me uns vĂŁos cuidados
mil mundos favorecidos,
com que serĂŁo descansados;
e eu acho-os todos mudados
em outros mundos perdidos.

Continue lendo…

A Cidade Bela

Quanto Ă© bela Ulisseia! E quanto Ă© grata
Dos sete montes seus ao longe a vista!
Das altas torres, pĂłrticos soberbos
Quanto Ă© grande, magnĂ­fico o prospecto!
Humilde e bonançoso o flavo Tejo,
Sobre areias aurĂ­feras correndo,
As praias lhe enriquece, as plantas beija.
QuĂŁo denso bosque de cavalos pinhos
Sobre a espádua sustenta! Do Oriente
Rubins acesos, fugidas safiras,
E da opulenta América os tesouros,
Cortando os mares lĂ­quidos, trouxeram.
Nela Ă© mais puro o ar; e o CĂ©u se esmalta
De mais sereno azul. O Sol brilhante,
Correndo o vasto CĂ©u, se apraz de vĂŞ-la.
E quase se suspende, e, meigo, envia
Sobre ela o raio extremo, quando acaba
A lĂşcida carreira, a frente de ouro
No seio esconde das cerĂşleas ondas.

GĂ©nios

……………………………….
……………………………….
E disse-me: Poeta, ao longe no horizonte
Não vês quase a lamber a abóbada do céu
Brilhante e luminoso um túmido escarcéu?
Como alvacento leão, na rápida carreira
Vem sacudindo a juba… A natureza inteira
Cisma, contempla, escuta o cântico profundo
Em trágico silêncio. O Sol já moribundo
Resvala-lhe no dorso, iria-lho de chamas,
Como dum monstro enorme as fúlgidas escamas…
Rugindo enovelada em turbilhĂŁo insano,
A vaga colossal, rasoira do oceano,

Lá vem rolando grave, e deixa ao caminhar
Um campo atrás dum monte, um lago atrás dum
[mar!
Qual lĂşcida serpente agora ei-la decresce
Em curva indefinida;—alonga-se… parece
Que a terra há-de estoirar em brancos estilhaços
No círculo fatal dos seus enormes braços.
Como galope infrene! Ei-la que chega!… voa
Num Ă­mpeto feroz, num salto de leoa
Aos rudes alcantis! e em hĂłrrida tormenta
Na rĂ­gida tranqueira o vagalhĂŁo rebenta,
Bramindo pelo ar: trepa, vacila, nuta,
E exânime por fim, vencida nesta luta,
Sem voz, sem força, inerte, exausta, esfarrapada   .
Lá vai… aonde a leve a ríspida nortada.

Continue lendo…

O Albatroz

Ă€s vezes no alto mar, distrai-se a marinhagem
Na caça do albatroz, ave enorme e voraz,
Que segue pelo azul a embarcação em viagem,
Num vĂ´o triunfal, numa carreira audaz.

Mas quando o albatroz se vĂŞ preso, estendido
Nas tábuas do convés, — pobre rei destronado!
Que pena que ele faz, humilde e constrangido,
As asas imperiais caĂ­das para o lado!

Dominador do espaço, eis perdido o seu nimbo!
Era grande e gentil, ei-lo o grotesco verme!…
Chega-lhe um ao bico o fogo do cachimbo,
Mutila um outro a pata ao voador inerme.

O Poeta é semelhante a essa águia marinha
Que desdenha da seta, e afronta os vendavais;
Exilado na terra, entre a plebe escarninha,
NĂŁo o deixam andar as asas colossais!

Tradução de Delfim Guimarães

Alexandrina, Como Era

Minha tia Alexandrina bebia café
meia tigela de manhĂŁ e meia de tarde
o que dava mais dum litro.
Com esse rio de fogo correndo no seu corpo
punha ela dez filhos fora de casa
e lavava dez sobrados Ă s senhoras da cidade.

E quando voltava para os Biscoitos na camioneta da carreira
deixava-me nos ouvidos a mĂşsica das gargalhadas dadas
e nos olhos os demĂłnios dos seus olhos
pretos, estrelas pequeninas fulgurantes.

NĂŁo passo pela ilha sem ir aos Biscoitos
não por vê-la, que ela já não está:
(levou-a o Canadá, a carta de chamada)
mas porque tenho consciĂŞncia que sĂŁo esplĂŞndidos
os ramos das vinhas que alastram nos calhaus.

A miséria do meu ser

A miséria do meu ser,
Do ser que tenho a viver,
Tornou-se uma coisa vista.
Sou nesta vida um qualquer
Que roda fora da pista.

Ninguém conhece quem sou
Nem eu mesmo me conheço
E, se me conheço, esqueço,
Porque nĂŁo vivo onde estou.
Rodo, e o meu rodar apresso.

É uma carreira invisível,
Salvo onde caio e sou visto,
Porque cair Ă© sensĂ­vel
Pelo ruído imprevisto…
Sou assim. Mas isto Ă© crĂ­vel?

Cantiga do Rosto Branco

Rico era o rosto branco; armas trazia,
E o licor que devora e as finas telas;
Na gentil Tibeima os olhos pousa,
E amou a flor das belas.

“Quero-te!” disse à cortesã da aldeia;
“Quando, junto de ti, teus olhos miro,
A vista se me turva, as forças perco,
E quase, e quase expiro.”

E responde a morena requebrando
Um olhar doce, de cobiça cheio:
“Deixa em teus lábios imprimir meu nome;
Aperta-me em teu seio!”

Uma cabana levantaram ambos,
O rosto branco e a amada flor das belas…
Mas as riquezas foram-se co’o tempo,
E as ilusões com elas.

Quando ele empobreceu, a amada moça
Noutros lábios pousou seus lábios frios,
E foi ouvir de coração estranho
Alheios desvarios.

Desta infidelidade o rosto branco
Triste nova colheu; mas ele amava,
Inda infiéis, aqueles lábios doces,
E tudo perdoava.

Perdoava-lhe tudo, e inda corria
A mendigar o grĂŁo de porta em porta,
Com que a moça nutrisse, em cujo peito
Jazia a afeição morta.

E para si,

Continue lendo…