Prova Documental
Já assumi a solidão dos outros
já provei do enigma insolúvel
já calcei as botas do morto
já tive segredo e foi de água abaixo.Já fugi ao encontro marcado
já fui banido, já disse adeus
já fui soldado, já fui rapsodo
já tive inocência e foi de água abaixo.Já fui esperto, já fui afoito
já puxei faca, já toquei pífaro
já fui vaiado depois da briga
já tive saudade e foi de água abaixo.Já fui árcade, já fui arcaico
já fui pateta, já fui patético
já perdi no jogo e na vida
já tive amor e foi de água abaixo.Já tive pressa, já sentei praça
já tive ouro, já tive prata
já tive lenda, já tive fazenda
já tive paz e foi de água abaixo.Já tive herdade, já fui deserdado
já tive episódio, já tive epitáfio
já levei o andor de Nosso Senhor
já tive esperança e foi de água abaixo.Já tive mando, já corri mundo
já fui a Roma e não quis ver o Papa
já fui pra cama com Ana Bolena
já tive infância e foi de água abaixo.
Poemas sobre Cavalos de Francisco de Oliveira Carvalho
2 resultados Poemas de cavalos de Francisco de Oliveira Carvalho. Leia este e outros poemas de Francisco de Oliveira Carvalho em Poetris.
Enterro de Luxo
Lá vai o enterro de luxo
puxado por sete cavalos
lá vai a rosa de plástico
na lapela do cadáver.Lá vai o defunto imberbe
boiando em madeira nobre
lá vai a língua bilingue
com seu sotaque podre.Lá vai o queixo amarrado
lá vai a gravata oblíqua
montada na escorreguenta
garupa da metafísica.Lá vai o enterro de luxo
lá vai a conta bancária
lá vai a calva engomada
lá vai o ouro da cárie.Lá vai o enterro de luxo
levado por ventos negros
lá vão os pendões de luto
com seus narizes alegres.Lá vai o enterro de luxo
lá vai o perfil de árabe
tangido pra correnteza
volúvel da eternidade.