O Ferrador de Cavalos
Em que lĂngua falarei
ao ferrador de cavalos?
Por que, na minha lĂngua
de assombro e vogal,
sĂł falo a mim mesmo
â ao meu nada e ao meu tudo â
e nem sequer disponho
do gesto dos mudos?
Se as palavras morrem
Ă mĂngua como os homens
e se o silĂȘncio fala
seu prĂłprio idioma
em que lĂngua direi
ao homem diferente
que ele Ă© meu semelhante
quando o vejo ferrar
o casco de um cavalo?
Empunhando o martelo
ele me conta histĂłrias
de cravos perdidos
e cavalos mancos.
Palavras que se perdem
como ferraduras
no caminho do pasto.
Poemas sobre Cavalos de LĂȘdo Ivo
2 resultadosBarganha
Domingo Ă© dia de barganha.
Troco um relĂłgio dos antigos
por um cavalo rosilho,
um bode por um trinca-ferro,
e uma roda de cabriolé
por um radinho de pilha.
Troco um gibĂŁo de cigano
pela serra que serrou
o tronco mais odorante
e por um fogĂŁo de lenha
troco um cachorro de caça
e uma panela de cobre.
Troco toda a luz do sol
pela sombra de um sĂł pĂĄssaro.
Por uma espingarda troco
um tacho que foi de escravos
além de um almofariz
e uma xĂcara sem asa.
Troco a salmoura dos peixes
por qualquer gosto de lĂĄgrima.
Pela vitrola rachada
dou a minha bicicleta
com os pneus arriados.
Troco o entulho que restou
do muro que derrubei
pelo calor da fogueira
que por uma noite apenas
negou o frio dos pobres.
Troco um lençol de noivado
e uma toalha bordada
pela sua reflectida
na escuridĂŁo das cisternas.
Troco o meu selim de couro
por um arreio de prata.
Dou um caminhĂŁo de pedra
por um portĂŁo de peroba.