Poemas sobre CĂ©u de Almeida Garrett

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Poemas de céu de Almeida Garrett. Leia este e outros poemas de Almeida Garrett em Poetris.

Beleza

Vem do amor a Beleza,
Como a luz vem da chama.
É lei da natureza:
Queres ser bela? – ama.

Formas de encantar,
Na tela o pincel
As pode pintar;
No bronze o buril
As sabe gravar;
E estĂĄtua gentil
Fazer o cinzel
Da pedra mais dura…
Mas Beleza Ă© isso? – NĂŁo; sĂł formosura.

Sorrindo entre dores
Ao filho que adora
Inda antes de o ver
– Qual sorri a aurora
Chorando nas flores
Que estão por nascer –
A mĂŁe Ă© a mais bela das obras de Deus.
Se ela ama! – O mais puro do fogo dos cĂ©us
Lhe ateia essa chama de luz cristalina:

É a luz divina
Que nunca mudou,
É luz… Ă© a Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.

Flor de Ventura

A flor de ventura
Que amor me entregou,
TĂŁo bela e tĂŁo pura
Jamais a criou:

NĂŁo brota na selva
De inculto vigor,
NĂŁo cresce entre a relva
De virgem frescor;

Jardins de cultura
NĂŁo pode habitar
A flor de ventura
Que amor me quis dar.

Semente Ă© divina
Que veio dos CĂ©us;
Só n’alma germina
Ao sopro de Deus.

TĂŁo alva e mimosa
NĂŁo hĂĄ outra flor;
Uns longes de rosa
Lhe avivam a cor;

E o aroma… Ai!, delĂ­rio
Suave e sem fim!
É a rosa, Ă© o lĂ­rio,
É o nardo, o jasmim;

É um filtro que apura,
Que exalta o viver,
E em doce tortura
Faz de Ăąnsias morrer.

Ai!, morrer… que sorte
Bendita de amor!
Que me leve a morte
Beijando-te, flor.

Rosa PĂĄlida

Rosa pĂĄlida, em meu seio
Vem, querida, sem receio
Esconder a aflita cor.
Ai!, a minha pobre rosa!
Cuida que Ă© menos formosa
Porque desbotou de amor.

Pois sim… quando livre, ao vento,
Solta de alma e pensamento,
Forte de tua isenção,
Tinhas na folha incendida
O sangue, o calor e a vida
Que ora tens no coração.

Mas nĂŁo eras, nĂŁo, mais bela,
Coitada, coitada dela,
A minha rosa gentil!
Coravam-na entĂŁo desejos,
Desmaiam-na agora os beijos…
Vales mais mil vezes, mil.

Inveja das outras flores!
Inveja de quĂȘ, amores?
Tu, que vieste dos CĂ©us,
Comparar tua beleza
Às filhas da natureza!
Rosa, nĂŁo tentes a Deus.

E vergonha!… de quĂȘ, vida?
Vergonha de ser querida,
Vergonha de ser feliz!
PorquĂȘ?… porquĂȘ em teu semblante
A pĂĄlida cor da amante
A minha ventura diz?

Pois, quando eras tĂŁo vermelha
NĂŁo vinha zĂąngĂŁo e abelha
Em torno de ti zumbir?
NĂŁo ouvias entre as flores
HistĂłrias dos mil amores
Que nĂŁo tinhas,

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Estes SĂ­tios!

Olha bem estes sĂ­tios queridos,
VĂȘ-os bem neste olhar derradeiro…
Ai! o negro dos montes erguidos,
Ai! o verde do triste pinheiro!
Que saudade que deles teremos…
Que saudade! ai, amor, que saudade!
Pois nĂŁo sentes, neste ar que bebemos,
No acre cheiro da agreste ramagem,
Estar-se alma a tragar liberdade
E a crescer de inocĂȘncia e vigor!
Oh! aqui, aqui sĂł se engrinalda
Da pureza da rosa selvagem,
E contente aqui sĂł vive Amor.
O ar queimado das salas lhe escalda
De suas asas o nĂ­veo candor,
E na frente arrugada lhe cresta
A inocĂȘncia infantil do pudor.
E oh! deixar tais delĂ­cias como esta!
E trocar este céu de ventura
Pelo inferno da escrava cidade!
Vender alma e razĂŁo Ă  impostura,
Ir saudar a mentira em sua corte,
Ajoelhar em seu trono Ă  vaidade,
Ter de rir nas angĂșstias da morte,
Chamar vida ao terror da verdade…
Ai! nĂŁo, nĂŁo… nossa vida acabou,
Nossa vida aqui toda ficou
Diz-lhe adeus neste olhar derradeiro,
Dize Ă  sombra dos montes erguidos,
Dize-o ao verde do triste pinheiro,

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Bela D’Amor

Pois essa luz cintilante
Que brilha no teu semblante
Donde lhe vem o ‘splendor?
NĂŁo sentes no peito a chama
Que aos meus suspiros se inflama
E toda reluz de amor?

Pois a celeste fragrĂąncia
Que te sentes exalar,
Pois, dize, a ingénua elegùncia
Com que te vĂȘs ondular
Como se baloiça a flor
Na Primavera em verdor,
Dize, dize: a natureza
Pode dar tal gentileza?
Quem ta deu senĂŁo amor?

VĂȘ-te a esse espelho, querida,
Ai!, vĂȘ-te por tua vida,
E diz se hå no céu estrela,
Diz-me se hĂĄ no prado flor
Que Deus fizesse tĂŁo bela
Como te faz meu amor.

Destino

Quem disse Ă  estrela o caminho
Que ela hå-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como Ă© que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se Ă  flor branca ou Ă  vermelha
O seu mel hĂĄ-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
Ai!, não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino…
Vim, que em ti sĂł sei viver,
SĂł por ti posso morrer.

Adeus!

Adeus! para sempre adeus!
Vai-te, oh! vai-te, que nesta hora
Sinto a justiça dos céus
Esmagar-me a alma que chora.
Choro porque nĂŁo te amei,
Choro o amor que me tiveste;
O que eu perco, bem no sei,
Mas tu… tu nada perdeste;
Que este mau coração meu
Nos secretos escaninhos
Tem venenos tĂŁo daninhos
Que o seu poder sĂł sei eu.

Oh! vai… para sempre adeus!
Vai, que hå justiça nos céus.
Sinto gerar na peçonha
Do ulcerado coração
Essa vĂ­bora medonha
Que por seu fatal condĂŁo
HĂĄ-de rasgĂĄ-lo ao nascer:
HĂĄ-de sim, serĂĄs vingada,
E o meu castigo hĂĄ-de ser
CiĂșme de ver-te amada,
Remorso de te perder.

Vai-te, oh! vai-te, longe, embora,
Que sou eu capaz agora
De te amar – Ai! se eu te amasse!
VĂȘ se no ĂĄrido pragal
Deste peito se ateasse
De amor o incĂȘndio fatal!
Mais negro e feio no inferno
NĂŁo chameia o fogo eterno.
Que sim? Que antes isso? – Ai, triste!
NĂŁo sabes o que pediste.

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Anjo És

Anjo Ă©s tu, que esse poder
Jamais o teve mulher,
Jamais o hĂĄ-de ter em mim.
Anjo Ă©s, que me domina
Teu ser o meu ser sem fim;
Minha razĂŁo insolente
Ao teu capricho se inclina,
E minha alma forte, ardente,
Que nenhum jugo respeita,
Covardemente sujeita
Anda humilde a teu poder.
Anjo Ă©s tu, nĂŁo Ă©s mulher.

Anjo Ă©s. Mas que anjo Ă©s tu?
Em tua fronte anuviada
NĂŁo vejo a c’roa nevada
Das alvas rosas do céu.
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sĂŽfrego pudor
Vela os mistĂ©rios d’amor.
Teus olhos tĂȘm negra a cor,
Cor de noite sem estrela;
A chama Ă© vivaz e Ă© bela,
Mas luz nĂŁo tĂȘm. – Que anjo Ă©s tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De JeovĂĄ ou Belzebu?

NĂŁo respondes – e em teus braços
Com frenéticos abraços
Me tens apertado, estreito!…
Isto que me cai no peito
Que foi?… – LĂĄgrima? – Escaldou-me…
Queima,

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