Beleza
Vem do amor a Beleza,
Como a luz vem da chama.
Ă lei da natureza:
Queres ser bela? – ama.Formas de encantar,
Na tela o pincel
As pode pintar;
No bronze o buril
As sabe gravar;
E estĂĄtua gentil
Fazer o cinzel
Da pedra mais dura…
Mas Beleza Ă© isso? – NĂŁo; sĂł formosura.Sorrindo entre dores
Ao filho que adora
Inda antes de o ver
– Qual sorri a aurora
Chorando nas flores
Que estĂŁo por nascer â
A mĂŁe Ă© a mais bela das obras de Deus.
Se ela ama! – O mais puro do fogo dos cĂ©us
Lhe ateia essa chama de luz cristalina:Ă a luz divina
Que nunca mudou,
Ă luz… Ă© a Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.
Poemas sobre CĂ©u de Almeida Garrett
8 resultadosFlor de Ventura
A flor de ventura
Que amor me entregou,
TĂŁo bela e tĂŁo pura
Jamais a criou:NĂŁo brota na selva
De inculto vigor,
NĂŁo cresce entre a relva
De virgem frescor;Jardins de cultura
NĂŁo pode habitar
A flor de ventura
Que amor me quis dar.Semente Ă© divina
Que veio dos CĂ©us;
SĂł nâalma germina
Ao sopro de Deus.TĂŁo alva e mimosa
NĂŁo hĂĄ outra flor;
Uns longes de rosa
Lhe avivam a cor;E o aroma… Ai!, delĂrio
Suave e sem fim!
Ă a rosa, Ă© o lĂrio,
Ă o nardo, o jasmim;Ă um filtro que apura,
Que exalta o viver,
E em doce tortura
Faz de Ăąnsias morrer.Ai!, morrer… que sorte
Bendita de amor!
Que me leve a morte
Beijando-te, flor.
Rosa PĂĄlida
Rosa pĂĄlida, em meu seio
Vem, querida, sem receio
Esconder a aflita cor.
Ai!, a minha pobre rosa!
Cuida que Ă© menos formosa
Porque desbotou de amor.Pois sim… quando livre, ao vento,
Solta de alma e pensamento,
Forte de tua isenção,
Tinhas na folha incendida
O sangue, o calor e a vida
Que ora tens no coração.Mas não eras, não, mais bela,
Coitada, coitada dela,
A minha rosa gentil!
Coravam-na entĂŁo desejos,
Desmaiam-na agora os beijos…
Vales mais mil vezes, mil.Inveja das outras flores!
Inveja de quĂȘ, amores?
Tu, que vieste dos CĂ©us,
Comparar tua beleza
Ăs filhas da natureza!
Rosa, nĂŁo tentes a Deus.E vergonha!… de quĂȘ, vida?
Vergonha de ser querida,
Vergonha de ser feliz!
PorquĂȘ?… porquĂȘ em teu semblante
A pĂĄlida cor da amante
A minha ventura diz?Pois, quando eras tĂŁo vermelha
NĂŁo vinha zĂąngĂŁo e abelha
Em torno de ti zumbir?
NĂŁo ouvias entre as flores
HistĂłrias dos mil amores
Que nĂŁo tinhas,
Estes SĂtios!
Olha bem estes sĂtios queridos,
VĂȘ-os bem neste olhar derradeiro…
Ai! o negro dos montes erguidos,
Ai! o verde do triste pinheiro!
Que saudade que deles teremos…
Que saudade! ai, amor, que saudade!
Pois nĂŁo sentes, neste ar que bebemos,
No acre cheiro da agreste ramagem,
Estar-se alma a tragar liberdade
E a crescer de inocĂȘncia e vigor!
Oh! aqui, aqui sĂł se engrinalda
Da pureza da rosa selvagem,
E contente aqui sĂł vive Amor.
O ar queimado das salas lhe escalda
De suas asas o nĂveo candor,
E na frente arrugada lhe cresta
A inocĂȘncia infantil do pudor.
E oh! deixar tais delĂcias como esta!
E trocar este céu de ventura
Pelo inferno da escrava cidade!
Vender alma e razĂŁo Ă impostura,
Ir saudar a mentira em sua corte,
Ajoelhar em seu trono Ă vaidade,
Ter de rir nas angĂșstias da morte,
Chamar vida ao terror da verdade…
Ai! nĂŁo, nĂŁo… nossa vida acabou,
Nossa vida aqui toda ficou
Diz-lhe adeus neste olhar derradeiro,
Dize Ă sombra dos montes erguidos,
Dize-o ao verde do triste pinheiro,
Bela D’Amor
Pois essa luz cintilante
Que brilha no teu semblante
Donde lhe vem o âsplendor?
NĂŁo sentes no peito a chama
Que aos meus suspiros se inflama
E toda reluz de amor?Pois a celeste fragrĂąncia
Que te sentes exalar,
Pois, dize, a ingénua elegùncia
Com que te vĂȘs ondular
Como se baloiça a flor
Na Primavera em verdor,
Dize, dize: a natureza
Pode dar tal gentileza?
Quem ta deu senĂŁo amor?VĂȘ-te a esse espelho, querida,
Ai!, vĂȘ-te por tua vida,
E diz se hå no céu estrela,
Diz-me se hĂĄ no prado flor
Que Deus fizesse tĂŁo bela
Como te faz meu amor.
Destino
Quem disse Ă estrela o caminho
Que ela hå-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como Ă© que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se Ă flor branca ou Ă vermelha
O seu mel hĂĄ-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
Ai!, não mo disse ninguém.Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino…
Vim, que em ti sĂł sei viver,
SĂł por ti posso morrer.
Adeus!
Adeus! para sempre adeus!
Vai-te, oh! vai-te, que nesta hora
Sinto a justiça dos céus
Esmagar-me a alma que chora.
Choro porque nĂŁo te amei,
Choro o amor que me tiveste;
O que eu perco, bem no sei,
Mas tu… tu nada perdeste;
Que este mau coração meu
Nos secretos escaninhos
Tem venenos tĂŁo daninhos
Que o seu poder sĂł sei eu.Oh! vai… para sempre adeus!
Vai, que hå justiça nos céus.
Sinto gerar na peçonha
Do ulcerado coração
Essa vĂbora medonha
Que por seu fatal condĂŁo
HĂĄ-de rasgĂĄ-lo ao nascer:
HĂĄ-de sim, serĂĄs vingada,
E o meu castigo hĂĄ-de ser
CiĂșme de ver-te amada,
Remorso de te perder.Vai-te, oh! vai-te, longe, embora,
Que sou eu capaz agora
De te amar – Ai! se eu te amasse!
VĂȘ se no ĂĄrido pragal
Deste peito se ateasse
De amor o incĂȘndio fatal!
Mais negro e feio no inferno
NĂŁo chameia o fogo eterno.
Que sim? Que antes isso? – Ai, triste!
NĂŁo sabes o que pediste.
Anjo Ăs
Anjo Ă©s tu, que esse poder
Jamais o teve mulher,
Jamais o hĂĄ-de ter em mim.
Anjo Ă©s, que me domina
Teu ser o meu ser sem fim;
Minha razĂŁo insolente
Ao teu capricho se inclina,
E minha alma forte, ardente,
Que nenhum jugo respeita,
Covardemente sujeita
Anda humilde a teu poder.
Anjo Ă©s tu, nĂŁo Ă©s mulher.Anjo Ă©s. Mas que anjo Ă©s tu?
Em tua fronte anuviada
NĂŁo vejo a c’roa nevada
Das alvas rosas do céu.
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sĂŽfrego pudor
Vela os mistĂ©rios d’amor.
Teus olhos tĂȘm negra a cor,
Cor de noite sem estrela;
A chama Ă© vivaz e Ă© bela,
Mas luz nĂŁo tĂȘm. – Que anjo Ă©s tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De JeovĂĄ ou Belzebu?NĂŁo respondes – e em teus braços
Com frenéticos abraços
Me tens apertado, estreito!…
Isto que me cai no peito
Que foi?… – LĂĄgrima? – Escaldou-me…
Queima,