O Amor Ă uma Companhia
O amor Ă© uma companhia.
JĂĄ nĂŁo sei andar sĂł pelos caminhos,
Porque jĂĄ nĂŁo posso andar sĂł.
Um pensamento visĂvel faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausĂȘncia dela Ă© uma coisa que estĂĄ comigo.
E eu gosto tanto dela que nĂŁo sei como a desejar.Se a nĂŁo vejo, imagino-a e sou forte como as ĂĄrvores altas.
Mas se a vejo tremo, nĂŁo sei o que Ă© feito do que sinto na ausĂȘncia dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Poemas sobre Companhia de Alberto Caeiro
2 resultadosVi Jesus Cristo Descer Ă Terra
Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer Ă terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e ĂĄrvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda Ă roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustraçÔes.
Nem sequer o deixavam ter pai e mĂŁe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que nĂŁo era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estĂșpida,