Nuvens
No dia triste o meu coração mais triste que o dia…
ObrigaçÔes morais e civis?
Complexidade de deveres, de consequĂȘncias?
NĂŁo, nada…
O dia triste, a pouca vontade para tudo…
Nada…Outros viajam (tambĂ©m viajei), outros estĂŁo ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive),
Todos tĂȘm razĂŁo, ou vida, ou ignorĂąncia simĂ©trica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para nĂŁo voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
NĂŁo sentem o que hĂĄ de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrĂvel em todo o novo…NĂŁo sentem: por isso sĂŁo deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
VĂŁo a todos os teatros e conhecem gente…
NĂŁo sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
DeixĂĄ-lo passar engrinaldado para o sacrifĂcio
Sob o sol, alacre, vivo, contente de sentir-se…
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer…
Poemas sobre ConsequĂȘncia de Ălvaro de Campos
5 resultadosTabacaria
NĂŁo sou nada.
Nunca serei nada.
NĂŁo posso querer ser nada.
Ă parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhÔes do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem Ă©, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessĂvel a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pĂŽr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lĂșcido, como se estivesse para morrer,
E nĂŁo tivesse mais irmandade com as coisas
SenĂŁo uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
FarĂłis
FarĂłis distantes,
De luz subitamente tĂŁo acesa,
De noite e ausĂȘncia tĂŁo rapidamente volvida,
Na noite, no convĂ©s, que conseqĂŒĂȘncias aflitas!
MĂĄgoa Ășltima dos despedidos,
Ficção de pensar…FarĂłis distantes…
Incerteza da vida…
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
No acaso do olhar perdido…FarĂłis distantes…
A vida de nada serve…
Pensar na vida de nada serve…
Pensar de pensar na vida de nada serve…Vamos para longe e a luz que vem grande vem menos grande.
FarĂłis distantes …
Desfraldando ao Conjunto FictĂcio dos CĂ©us estrelados
Desfraldando ao conjunto fictĂcio dos cĂ©us estrelados
O esplendor do sentido nenhum da vida…Toquem num arraial a marcha fĂșnebre minha!
Quero cessar sem consequĂȘncias…
Quero ir para a morte como para uma festa ao crepĂșsculo.
Ă InĂștil Tudo
Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.Ă inĂștil dizer-me que as açÔes tĂȘm conseqĂŒĂȘncias.
Ă inĂștil eu saber que as açÔes usam conseqĂŒĂȘncias.
Ă inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo.AtravĂ©s do dia de nĂ©voa nĂŁo chega coisa nenhuma.
Tinha agora vontade
De ir esperar ao comboio da Europa o viajante anunciado,
De ir ao cais ver entrar o navio e ter pena de tudo.NĂŁo vem com a tarde oportunidade nenhuma.