Poemas sobre ConvivĂȘncia

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Poemas de convivĂȘncia escritos por poetas consagrados, filĂłsofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Vida Grata

Feliz aquele a quem a vida grata
Concedeu que dos deuses se lembrasse
E visse como eles
Estas terrenas coisas onde mora
Um reflexo mortal da imortal vida.
Feliz, que quando a hora tributĂĄria
Transpor seu ĂĄtrio por que a Parca corte
O fio fiado até ao fim,
Gozar poderå o alto prémio
De errar no Averno grato abrigo
Da convivĂȘncia.

Mas aquele que quer Cristo antepor
Aos mais antigos Deuses que no Olimpo
Seguiram a Saturno —
O seu blasfemo ser abandonado
Na fria expiação — atĂ© que os Deuses
De quem se esqueceu deles se recordem —
Erra, sombra inquieta, incertamente,
Nem a viĂșva lhe pĂ”e na boca
O Ăłbolo a Caronte grato,
E sobre o seu corpo insepulto
NĂŁo deita terra o viandante.

Dactilografia

Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,
Firmo o projeto, aqui isolado,
Remoto até de quem eu sou.

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das mĂĄquinas de escrever.
Que nĂĄusea da vida!
Que abjeção esta regularidade!
Que sono este ser assim!

Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros
(IlustraçÔes, talvez, de qualquer livro de infùncia),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes paisagens do Norte, explĂ­citas de neve,
Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes.

Outrora.

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das mĂĄquinas de escrever.

Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que Ă© a que sonhamos na infĂąncia,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;
A falsa, que Ă© a que vivemos em convivĂȘncia com outros,
Que Ă© a prĂĄtica, a Ăștil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixĂŁo.

Na outra não hå caixÔes, nem mortes,
Hå só ilustraçÔes de infùncia:
Grandes livros coloridos, para ver mas nĂŁo ler;
Grandes pĂĄginas de cores para recordar mais tarde.

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