A Vida Grata
Feliz aquele a quem a vida grata
Concedeu que dos deuses se lembrasse
E visse como eles
Estas terrenas coisas onde mora
Um reflexo mortal da imortal vida.
Feliz, que quando a hora tributĂĄria
Transpor seu ĂĄtrio por que a Parca corte
O fio fiado até ao fim,
Gozar poderå o alto prémio
De errar no Averno grato abrigo
Da convivĂȘncia.Mas aquele que quer Cristo antepor
Aos mais antigos Deuses que no Olimpo
Seguiram a Saturno â
O seu blasfemo ser abandonado
Na fria expiação â atĂ© que os Deuses
De quem se esqueceu deles se recordem â
Erra, sombra inquieta, incertamente,
Nem a viĂșva lhe pĂ”e na boca
O Ăłbolo a Caronte grato,
E sobre o seu corpo insepulto
NĂŁo deita terra o viandante.
Poemas sobre ConvivĂȘncia
2 resultadosDactilografia
Traço, sozinho, no meu cubĂculo de engenheiro, o plano,
Firmo o projeto, aqui isolado,
Remoto até de quem eu sou.Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das mĂĄquinas de escrever.
Que nĂĄusea da vida!
Que abjeção esta regularidade!
Que sono este ser assim!Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros
(IlustraçÔes, talvez, de qualquer livro de infùncia),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes paisagens do Norte, explĂcitas de neve,
Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes.Outrora.
Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das mĂĄquinas de escrever.Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que Ă© a que sonhamos na infĂąncia,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;
A falsa, que Ă© a que vivemos em convivĂȘncia com outros,
Que Ă© a prĂĄtica, a Ăștil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.Na outra não hå caixÔes, nem mortes,
Hå só ilustraçÔes de infùncia:
Grandes livros coloridos, para ver mas nĂŁo ler;
Grandes pĂĄginas de cores para recordar mais tarde.