A SofreguidĂŁo de um Instante
Tudo renegarei menos o afecto,
e trago um ceptro e uma coroa,
o primeiro de ferro, a segunda de urze,
para ser o rei efémero
desse amor Ășnico e breve
que se dilui em partidas
e se fragmenta em perguntas
iguais Ă s das amantes
que a claridade atordoa e converte.
Deixa-me reinar em ti
o tempo apenas de um relĂąmpago
a incendiar a erva seca dos cumes.
E se tiver que montar guarda,
que seja em redor do teu sono,
num ĂȘxtase de lĂĄbios sobre a relva,
num delĂrio de beijos sobre o ventre,
num assombro de dedos sob a roupa.
Eu estava morto e nĂŁo sabia, sabes,
que hĂĄ um tempo dentro deste tempo
para renascermos com os corais
e sermos eternos na sofreguidĂŁo de um instante.
Poemas sobre Coroas de José Jorge Letria
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