O Amor e a Morte
Canção cruel
Corpo de ânsia.
Eu sonhei que te prostrava,
E te enleava
Aos meus mĂşsculos!Olhos de ĂŞxtase,
Eu sonhei que em vĂłs bebia
Melancolia
De há séculos!Boca sôfrega,
Rosa brava
Eu sonhei que te esfolhava
PĂ©tala a pĂ©tala!Seios rĂgidos,
Eu sonhei que vos mordia
Até que sentia
Vómitos!Ventre de mármore,
Eu sonhei que te sugava,
E esgotava
Como a um cálice!Pernas de estátua,
Eu sonhei que vos abria,
Na fantasia,
Como pĂłrticos!PĂ©s de sĂlfide,
Eu sonhei que vos queimava
Na lava
Destas mãos ávidas!Corpo de ânsia,
Flor de volĂşpia sem lei!
NĂŁo te apagues, sonho! mata-me
Como eu sonhei.
Poemas sobre Corpo de José Régio
2 resultadosNatal
Mais uma vez, cá vimos
Festejar o teu novo nascimento,
NĂłs, que, parece, nos desiludimos
Do teu advento!Cada vez o teu Reino Ă© menos deste mundo!
Mas vimos, com as mĂŁos cheias dos nossos pomos,
Festejar-te, — do fundo
Da miséria que somos.Os que à chegada
Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,
Somos — não uma vez, mas cada —
Teus assassinos.Ă€ tua mesa nos sentamos:
Teu sangue e corpo Ă© que nos mata a sede e a fome;
Mas por trinta moedas te entregamos;
E por temor, negamos o teu nome.Sob escárnios e ultrajes,
Ao vulgo te exibimos, que te aclame;
Te rojamos nas lajes;
Te cravejamos numa cruz infane.Depois, a mesma cruz, a erguemos,
Como um farol de salvação,
Sobre as cidades em que ferve extremos
A nossa corrupção.Os que em leilão a arrematamos
Como sagrada peça única,
Somos os que jogamos,
Para comércio, a tua túnica.Tais somos, os que, por costume,
Vimos, mais uma vez,