Poemas sobre Cruz de Teixeira de Pascoaes

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O Que Eu Sou

Nocturna e dubia luz
Meu sĂŞr esboça e tudo quanto existe…
Sou, num alto de monte, negra cruz,
Onde bate o luar em noite triste…

Sou o espirito triste que murmura
Neste silencio lĂşgubre das Cousas…
Eu Ă© que sou o Espectro, a Sombra escura
De falecidas formas mentirosas.

E tu, Sombra infantil do meu AmĂ´r,
És o Sêr vivo, o Sêr Espiritual,
A Presença radiosa…
Eu sou a DĂ´r,
Sou a tragica Ausencia glacial…

Pois tu vives, em mim, a vida nova,
E eu já nĂŁo vivo em ti…
Mas quem morreu?
Fôste tu que baixaste á fria cova?
Oh, nĂŁo! Fui eu! Fui eu!

Horrivel cataclismo e negra sorte!
Tu fĂ´ste um mundo ideal que se desfez
E onde sonhei viver apoz a morte!
Vendo teus lindos olhos, quanta vez,
Dizia para mim: eis o logar
Da minha espiritual, futura imagem…
E viverei á luz daquele olhar,
Divino sol de mistica Paisagem.

Era minha ambição primordial
Legar-lhe a minha imagem de saudade;
Mas um vento cruel de temporal,

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A Minha DĂ´r

Tua morte feriu-me no mais fundo,
Remoto da minh’alma que eu julgava
Já fóra desta vida e deste mundo!

E vejo agora quanto me enganava,
Imaginando possuir em mim
Alma que fĂ´sse livre e nĂŁo escrava!

Meu espirito Ă© treva e dĂ´r sem fim.
Todo eu sou dĂ´r e morte. Sou franquĂŞsa.
Sou o enviado da Sombra. Ao mundo vim

Prégar a noite, a lagrima, a incertêsa,
A luz que, para sempre, anoiteceu…
Esta envolvente, essencial tristĂŞsa,

TristĂŞsa original donde nasceu
O sol caindo em lagrimas de luz,
Chôro de oiro inundando terra e céu!

Sou o enviado da Sombra. Em negra cruz,
Meu ilusorio sĂŞr crucificado
Lembra um morto phantasma de Jesus…

E aos pés da minha cruz, no chão maguado,
A tua Ausencia Ă© a Virgem Dolorosa,
Com tenebroso olhar no meu pregado.

Ah! quanto a minha vida religiosa,
Depois que te perdeste no sol-pĂ´sto,
Se fez incerta, fragil e enganosa!

Em meu sĂŞr desenhou-se um novo rĂ´sto.
Sou outro agora; e vejo com pavor
Minha máscara interna de desgôsto.

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