Poemas sobre Desmedida

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Poemas de desmedida escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Poema Quase ApostĂłlico

EstĂĄ sereno o poeta
Desprende-se-lhe dos ombros e cai
depois em pregas por ele abaixo a manhĂŁ
NĂŁo pertencem ao dia os gestos que ele tem
nĂŁo morrerĂŁo na noite seus assombrosos passos
Dizem que ele volta a pĂŽr em movimento a roda
de crianças de atitudes desmedidas
que o vento varreu e parque algum queria
E abre os braços para deixar cair na cidade
um ano favorĂĄvel ao senhor
E pÔe o rosto do senhor por trås das suas palavras
Elas decerto o hĂŁo-de dar a quem as demandar

Ode MarĂ­tima

Sozinho, no cais deserto, a esta manhĂŁ de VerĂŁo,
Olho pro lado da barra, olho pro Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nĂ­tido, clĂĄssico Ă  sua maneira.
Deixa no ar distante atrĂĄs de si a orla vĂŁ do seu fumo.
Vem entrando, e a manhĂŁ entra com ele, e no rio,
Aqui, acolĂĄ, acorda a vida marĂ­tima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos de trĂĄs dos navios que estĂŁo no porto.
HĂĄ uma vaga brisa.
Mas a minh’alma estĂĄ com o que vejo menos,
Com o paquete que entra,
Porque ele estĂĄ com a DistĂąncia, com a ManhĂŁ,
Com o sentido marĂ­timo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma nåusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.

Olho de longe o paquete, com uma grande independĂȘncia de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente,

Os paquetes que entram de manhĂŁ na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.

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arte poética

o poema nĂŁo tem mais que o som do seu sentido,
a letra p nĂŁo Ă© a primeira letra da palavra poema,
o poema Ă© esculpido de sentidos e essa Ă© a sua forma,
poema nĂŁo se lĂȘ poema, lĂȘ-se pĂŁo ou flor, lĂȘ-se erva
fresca e os teus lĂĄbios, lĂȘ-se sorriso estendido em mil
ĂĄrvores ou cĂ©u de punhais, ameaça, lĂȘ-se medo e procura
de cegos, lĂȘ-se mĂŁo de criança ou tu, mĂŁe, que dormes
e me fizeste nascer de ti para ser palavras que nĂŁo
se escrevem, LĂȘ-se paĂ­s e mar e cĂ©u esquecido e
memĂłria, lĂȘ-se silĂȘncio, sim tantas vezes, poema lĂȘ-se silĂȘncio,
lugar que nĂŁo se diz e que significa, silĂȘncio do teu
olhar doce de menina, silĂȘncio ao domingo entre as conversas,
silĂȘncio depois de um beijo ou de uma flor desmedida, silĂȘncio
de ti, pai, que morreste em tudo para sĂł existires nesse poema
calado, quem o pode negar?, que escreves sempre e sempre, em
segredo, dentro de mim e dentro de todos os que te sofrem.
o poema nĂŁo Ă© esta caneta de tinta preta, nĂŁo Ă© esta voz,

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