LĂșbrica
Quando a vejo, de tarde, na alameda,
Arrastando com ar de antiga fada,
Pela rama da murta despontada,
A saia transparente de alva seda,
E medito no gozo que promete
A sua boca fresca, pequenina,
E o seio mergulhado em renda fina,
Sob a curva ligeira do corpete;
Pela mente me passa em nuvem densa
Um tropel infinito de desejos:
Quero, Ă s vezes, sorvĂȘ-la, em grandes beijos,
Da luxĂșria febril na chama intensaâŠ
Desejo, num transporte de gigante,
Estreitå-la de rijo entre meus braços,
Até quase esmagar nesses abraços
A sua carne branca e palpitante;
Como, da Ăsia nos bosques tropicais
Apertam, em espiral auriluzente,
Os mĂșsculos hercĂșleos da serpente,
Aos troncos das palmeiras colossais.
Mas, depois, quando o peso do cansaço
A sepulta na morna letargia,
Dormitando, repousa, todo o dia,
Ă sombra da palmeira, o corpo lasso.Assim, quisera eu, exausto, quando,
No delĂrio da gula todo absorto,
Me prostasse, embriagado, semimorto,
O vapor do prazer em sono brando;
Entrever, sobre fundo esvaecido,
Dos fantasmas da febre o incerto mar,
Poemas sobre Dia de Camilo Pessanha
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Crepuscular
HĂĄ no ambiente um murmĂșrio de queixume,
De desejos de amor, dâais comprimidosâŠ
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.
As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delĂquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados,
Sentem-se espasmos, agonias dâave,
InapreensĂveis, mĂnimas, serenasâŠ
_ Tenho entre as mĂŁos as tuas mĂŁos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.
As tuas mĂŁos tĂŁo brancas dâanemiaâŠ
Os teus olhos tĂŁo meigos de tristezaâŠ
_ Ă este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.