Poemas sobre Dia de Sá de Miranda

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Esparsa

Não vejo o rosto a ninguém,
cuidais que sou, e nĂŁo sou.
Sombras que nĂŁo vĂŁo nem vĂŞm,
parece que avante vĂŁo.
Entre o doente e o sĂŁo
mente cada passo a espia;
no meio do claro dia
andais entre lobo e cĂŁo.

O Sol Ă© Grande

O sol é grande, caem co’a calma as aves,
do tempo em tal sazĂŁo, que sĂłi ser fria;
esta água que d’alto cai acordar-m’-ia
do sono nĂŁo, mas de cuidados graves.

Ă“ cousas, todas vĂŁs, todas mudaves,
qual é tal coração qu’em vós confia?
Passam os tempos vai dia trás dia,
incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d’amores.

Tudo Ă© seco e mudo; e, de mestura,
também mudando-m’eu fiz doutras cores:
e tudo o mais renova, isto Ă© sem cura!