Poemas sobre Dor de Alfredo Brochado

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Poemas de dor de Alfredo Brochado. Leia este e outros poemas de Alfredo Brochado em Poetris.

Quimeras

Há na minha vida quimeras distantes,
Quais nuvens errantes, em dias atrozes.
Eu corro atrás delas, mas elas, por fim,
Perdem-se de mim, no horizonte, velozes.

Há no meu diário silenciosas dores,
Quais flores que o vento desfaz de manhĂŁ.
Com elas me embalo nos dias soturnos,
Dir-se-iam «Nocturnos», como os de Chopin.

Há no meu caminho nem sei bem o quê.
Alguém que me vê e que eu não visiono.
São meus dias passados, meus dias de infância,
Sabendo à fragrância das tardes de Outono.

Saudades, saudades, sentido da vida,
Um dia vivida e que nĂŁo volta mais.
Meus dias passados, sobre eles me debruço,
No eterno soluço das coisas mortais.

Há na minha vida um viver fictício,
Fogo de artifĂ­cio, esplendente e altivo.
Eu vejo-o enlevado, um instante fugaz,
Depois se desfaz na noite em que eu vivo.

Há na minha vida ignotas tristezas,
Pequenas certezas a que me apeguei.
Com elas eu vivo, com elas eu morro,
Para meu socorro Ă© que eu as criei.

Quimeras, quimeras,

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CiĂşme

VĂŁo decorrendo as horas, vĂŁo-se os dias,
Mas como outrora ela nĂŁo vem. CiĂşme?
Olho em redor de mim, meu pobre lume,
SĂŁo tudo cinzas mortas, cinzas frias.

Bateu o relĂłgio as horas do costume,
E tu nĂŁo vens, já nĂŁo te vejo mais…
Dos nossos dias, vivos, triunfais,
SĂł restam coisas mortas e sombrias.

Não sei que mágoa e dor meus olhos cobre.
Sinto que alguém morreu dentro de mim.
Bate o relĂłgio as horas, como um dobre,
A dizer, a dizer: tudo tem fim.

Vai a tarde a morrer, e um frio imenso
Cai sobre mim como um PĂłlo de gelo.
Junto de ti, quem estará, eu penso,
A beijar, em silĂŞncio, o teu cabelo?

Nessas tardes, assim, vagas, sensuais,
Eu nĂŁo quero pensar um sĂł momento.
Se foram minhas, hoje sĂŁo dos mais…
Deixo-as morrer no frio esquecimento.

Ex-Voto

Anda a tua saudade ao pé de mim,
E porque a tenho já por companheira,
Eu começo a pensar, e penso, enfim,
Que te hei-de ver um dia Ă  minha beira.

Posso lá acreditar que toda a tua esperança,
O teu grande desejo de viver,
Hão-de caber num berço de criança!
Eu posso lá pensar em nunca mais te ver!

Posso lá acreditar que no ingrato caminho
Da minha vida que esta dor consome,
Nunca mais te hei-de ouvir, mesmo baixinho,
Pronunciar o meu nome!

Posso lá acreditar que a infinita poesia,
Que descia, ao falares, da tua voz,
NĂŁo seja agora mais do que uma sinfonia,
A pairar, a vibrar, longe de nĂłs!

Posso lá acreditar! Então a vida,
O que era para mim, assim, o que era?
Ah! NĂŁo valia a pena ser vivida,
E nĂŁo chegava mesmo a ser uma quimera!