Só de Restos se Consagra o Tempo
Só de restos se consagra o tempo, força
cerrada na inutilidade destas
cores campestres, quando o sol em Novembro
escurece os sobreiros. Só de restos me
espera a cerimónia de viver,
trânsito e transigência do silêncio,
ocultado no meu corpo. Só de restos
o trespassa o tempo, máscara e manto. Morro
muito antes da morte, sem saber se os anjos
foram gaivotas hirtas no piedoso
musgos dos rios ou se hão-de ser maçãs
ou ciência, loendros ou lembrança,
inocentes, lúcidos sonos ou oblata
de seda, a deus cedida, em pagamento
da paz. Só do que chega ao fim, se corrompe
e apodrece, se imagina o princípio,
a majestade das coisas, o silêncio
irrevelado que o corpo desconhece.
Poemas sobre Espera de Orlando Neves
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À Morte
Tu que mísero vives
no vão dos braços
em súbito furorTu de mãos cativas
senhor dos ombros
indefeso dadorTu que os dedos secas
no liso peito
armado amadorTu no cárcere vivo
das horas idas
impune rumorTu rendida palavra
íntimo trânsito
do barco raptorTu que na minha pele
táctil ardoramável me esperas