Porque o Melhor, Enfim
Porque o melhor, enfim,
É nĂŁo ouvir nem ver…
Passarem sobre mim
E nada me doer!_ Sorrindo interiormente,
Co’as pálpebras cerradas,
Às águas da torrente
Já tão longe passadas. _Rixas, tumultos, lutas,
NĂŁo me fazerem dano…
Alheio Ă s vĂŁs labutas,
Às estações do ano.Passar o estio, o outono,
A poda, a cava, e a redra,
E eu dormindo um sono
Debaixo duma pedra.Melhor até se o acaso
O leito me reserva
No prado extenso e raso
Apenas sob a ervaQue Abril copioso ensope…
E, esvelto, a intervalos
Fustigue-me o galope
De bandos de cavalos.Ou no serrano mato,
A brigas tĂŁo propĂcio,
Onde o viver ingrato
Dispõe ao sacrifĂcioDas vidas, mortes duras
Ruam pelas quebradas,
Com choques de armaduras
E tinidos de espadas…Ou sob o piso, atĂ©,
Infame e vil da rua,
Onde a torva ralé
Irrompe, tumultua,Se estorce, vocifera,
Selvagem nos conflitos,
Com Ămpetos de fera
Nos olhos,
Poemas sobre Estações de Camilo Pessanha
3 resultadosVida
Choveu! E logo da terra humosa
Irrompe o campo das liliáceas.
Foi bem fecunda, a estação pluviosa!
Que vigor no campo das liliáceas!
Calquem. Recalquem, nĂŁo o afogam.
Deixem. NĂŁo calquem. Que tudo invadam.
NĂŁo as extinguem. Porque as degradam?
Para que as calcam? NĂŁo as afogam.
Olhem o fogo que anda na serra.
É a queimada… Que lumarĂ©u!Podem calcá-lo, deitar-lhe terra,
Que não apagam o lumaréu.
Deixem! NĂŁo calquem! Deixem arder.
Se aqui o pisam, rebenta além.
_ E se arde tudo? _ Isso que tem?
Deitam-lhe fogo, Ă© para arder…
Rosas de Inverno
Corolas, que floristes
Ao sol do inverno, avaro,
Tão glácido e tão claro
Por estas manhãs tristes.Gloriosa floração,
Surdida, por engano,
No agonizar do ano,
Tão fora da estação!Sorrindo-vos amigas,
Nos ásperos caminhos,
Aos olhos dos velhinhos,
Às almas das mendigas!Desse Natal de inválidos
Transmito-vos a bênção,
Com que vos recompensam
Os seus sorrisos pálidos.