Poemas sobre Estradas de Carlos Drummond de Andrade

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Poemas de estradas de Carlos Drummond de Andrade. Leia este e outros poemas de Carlos Drummond de Andrade em Poetris.

O Deus Mal Informado

No caminho onde pisou um deus
hĂĄ tanto tenpo que o tempo nĂŁo lembra
resta o sonho dos pés
sem peso
sem desenho.

Quem passe ali, na fracção de segundo,
em deus se erige, insciente, deus faminto,
saudoso de existĂȘncia.

Vai seguindo em demanda de seu rastro,
Ă© um tremor radioso, uma opulĂȘncia
de impossĂ­veis, casulos do possĂ­vel.

Mas a estrada se parte, se milparte,
a seta nĂŁo aponta
a destino algum, e o traço ausente
ao homem torna homem, novamente.

Inquérito

Pergunta Ă s ĂĄrvores da rua
que notĂ­cia tĂȘm desse dia
filtrado em betume da noite;
se por acaso pressentiram
nas aragens conversadeiras,
ĂĄgil correio do universo,
um calar mais informativo
que toda grave confissĂŁo.

Pergunta aos pĂĄssaros, cativos
do sol e do espaço, que viram
ou bicaram de mais estranho,
seja na pele das estradas
seja entre volumes suspensos
nas prateleiras do ar, ou mesmo
sobre a palma da mĂŁo de velhos
profissionais de solidĂŁo.

Pergunta Ă s coisas, impregnadas
de sono que precede a vida
e a consuma, sem que a vigĂ­lia
intermédia as liberte e faça
conhecedoras de si mesmas,
que prisma, que diamante fluido
concentra mil fogos humanos
onde era ruga e cinza e nĂŁo.

Pergunta aos hortos que segredo
de clepsidra, areia e carocha
se foi desenrolando, lento,
no calado rumo do infante
a divagar por entre sĂ­mbolos
de sĂ­mbolos outros, primeiros,
e tĂŁo acessĂ­veis aos pobres
como a breve casca do pĂŁo.

Pergunta ao que, nĂŁo sendo, resta
perfilado Ă  porta do tempo,

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