Dona Abastança
«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.FamĂlia necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»Já se deixa ver
Que nĂŁo pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem nĂŁo tem
Fazendo mais e mais pobres.Já se deixa ver
Que nĂŁo pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.Oh engano sempre novo
De tĂŁo estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.
Poemas sobre Estranhos de Manuel da Fonseca
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