visto a esta luz
Visto a esta luz Ă©s um porto de mar
como reverberos de ondas onde havia mĂŁos
rebocadores na brancura dos braçosConstroem-te um ponte
que deverá cingir-te os rins para sempreO que há horrĂvel no teu corpo diurno
Ă© a sua avareza de palavras
Ă©s tu inutilmente iluminado e quente
como um resto saĂdo de outras eras
que te fizeram carne e se foram embora
porque verdade sem erro certo verdadeiro
nada era noite bastante para tocarmos melhor
as nossas mãos de nautas navegando o espaço
os corpos um e dois do navio de espelhos
filhos e filhas do imponderável
de cabeça para baixo a ver a terra girarQuero-te sempre como nã querer-te?
mas esta luz de sinopla nas calças!
este interposto objecto
e o seu leve peso de eternidade
Poemas Exclamativos de Mário Cesariny
3 resultadosPastelaria
Afinal o que importa nĂŁo Ă© a literatura
nem a crĂtica de arte nem a câmara escuraAfinal o que importa nĂŁo Ă© bem o negĂłcio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ĂłcioAfinal o que importa nĂŁo Ă© ser novo e galante
– ele há tanta maneira de compor uma estante!Afinal o que importa Ă© nĂŁo ter medo: fechar os olhos frente ao precipĂcio
e cair verticalmente no vĂcioNĂŁo Ă© verdade, rapaz? E amanhĂŁ há bola
antes de haver cinema madame blanche e parolaQue afinal o que importa nĂŁo Ă© haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que comeQue afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
Ă saĂda da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudoNo riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos Ă mostra
homenagem a cesário verde
Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um Ăşltimo cigarro
um feijĂŁo branco em sangue e rolas cozidasPouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no paĂs!