Saudade
Segue-me noite e dia o teu desejo!…
Oiço a tua voz rúbida e cantante
Suplicar-me a carĂcia do meu beijo,
numa teima exigente e perturbante!E o meu corpo vencido, dominado,
vai tombar doloroso, inconsciente,
sobre a lembrança morna do passado
– e fica-se a sonhar… perdidamente!
Poemas sobre Exigentes
5 resultadosNĂŁo Creio nesse Deus
I
NĂŁo sei se Ă©s parvo se Ă©s inteligente
— Ao disfrutares vida de nababo
Louvando um Deus, do qual te dizes crente,
Que te livre das garras do diabo
E te faça feliz eternamente.II
NĂŁo vĂŞs que o teu bem-estar faz d’outra gente
A dor, o sofrimento, a fome e a guerra?
E tu nĂŁo queres p’ra ti o cĂ©u e a terra..
— NĂŁo te achas egoĂsta ou exigente?III
NĂŁo creio nesse Deus que, na igreja,
Escuta, dos beatos, confissões;
NĂŁo posso crer num Deus que se maneja,
Em troca de promessas e orações,
P’ra o homem conseguir o que deseja.IV
Se Deus quer que vivamos irmĂŁmente,
Quem cumpre esse dever por que receia
As iras do divino padre eterno?…
P’ra esses Ă© o cĂ©u; porque o inferno
É p’ra quem vive a vida Ă custa alheia!
Em Louvor da Miniblusa
Hoje vai a antiga musa
celebrar a nova blusa
que de Norte a Sul se usa
como graça de verão.
Graça que mostra o que esconde
a blusa comum, mas onde
um velho da era do bonde
encontrará mais mensagem
do que na bossa estival
da rola que ao natural
mostra seu colo fatal,
ou quase, pois tanto faz,
se a anatomia me ensina
a tocar a concertina
em busca ao mapa da mina
que ora muda de lugar?
Já nem sei mais o que digo
ao divisar certo umbigo:
penso em flor, cereja, figo,
penso em deixar de pensar,
e em louvar o costureiro
ou costureira — joalheiro
que expõe a qualquer soleiro
esse profundo diamante
exclusivo antes das praias
(Copas, Leblons, Marambaias
e suas areias gaias).
Salve, moda, salve, sol
de sal, de alegre inventiva,
que traz à matéria viva
a prova figurativa!
Pode a indústria de fiação
carpir-se do pouco pano
que o figurino magano
reduz a zero, cada ano.
Que importa?
Bailados do Luar
PĂ©talas de rosas
tombam lentamente, silenciosas…
E de vagar
vem entrando
a farândola rĂtmica
e silente
dos gĂłticos bailados do luar!…Sobre as dobras macias
e assediantes
da seda do meu leito desmanchado,
esguias sombras
adelgaçando afagos,
poisam no meu peito desvestido…
E a boca hipnĂłtica e algente
do meu luarento amante,
vai esculpindo o meu corpo
pálido e vencido!…No espaço azul e vago,
esvoaça subtiltmente
a cálida lembrança
da tua voz!Busco a verdade viva do teu beijo
e encontro apenas
esta estranha heresia,
crispando o alvo recorte
do meu corpo magoado!…Estilhaçam-se, vibrando
numa ânsia doentia,
os meus nervos nostálgicos,
irreverentes
empalidecendo
em dolĂŞncias inocentes
o rubor do meu desejo
insaciado…As rosas vĂŁo tombando lentamente,
devagar,
sobre a carĂcia dormente
e embruxada…
dos espásmicos beijos do luar…
Oiço a tua voz
em toda a parte!E perco-me dentro dos meus próprios braços,
tumultuosos e exigentes,a procurar-te!
Contrariedades
Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
IncrĂvel! Já fumei trĂŞs maços de cigarros
Consecutivamente.Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
TĂŁo lĂvida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve a conta na botica!
Mal ganha para sopas…O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.Que mau humor! Rasguei uma epopéia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais duma redação, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.A crĂtica segundo o mĂ©todo de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
MuitĂssimos papĂ©is inĂ©ditos. A imprensa
Vale um desdém solene.