Poemas sobre ExistĂȘncia de Guerra Junqueiro

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Poemas de existĂȘncia de Guerra Junqueiro. Leia este e outros poemas de Guerra Junqueiro em Poetris.

O Amor

I

Eu nunca naveguei, pieguĂ­ssimo argonauta
Dans les fleuves du tendre, onde hĂĄ naufrĂĄgios bons,
Conduzindo Florian na tolda a tocar frauta,
E cupidinhos d’oiro a tasquinhar bombons.
Nunca ninguém me viu de capa à trovador,
Às horas em que está já Menelau deitado,
A tanger o arrabil sob os balcÔes em flor
Dos castelos feudais de papelĂŁo doirado.
NĂŁo canto de Anfitrite as vaporosas fraldas,
(Eu nĂŁo quero com isto, Ăł VĂ©nus, descompor-te)
Nem costumo almoçar c’roado de grinaldas,
Nem nunca pastoreei enfim, vestido Ă  corte,
De bordão de cristal e punhos de Alençon,
Borreguinhos de neve a tosar esmeraldas
Num lameiro qualquer de qualquer Trianon.
Eu não bebo ambrósia em taças cristalinas,
Bebo um vinho qualquer do Douro ou de Bucelas,
Nem vou interrogar as folhas das boninas,
Para saber o amor, o tal amor das Elas.
NĂŁo visto da poesia a tĂșnica inconsĂștil,
Pela simples razĂŁo, sob o pretexto fĂștil
De ter visto passar na rua uns pés bonitos;
Nem do meu coração eu fiz um paliteiro,
Onde venha o amor cravar os seus palitos.

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A Escola Portuguesa

Eis as crianças vermelhas
Na sua hedionda prisĂŁo:
Doirado enxame de abelhas!
O mestre-escola Ă© o zangĂŁo.

Em duros bancos de pinho
Senta-se a turba sonora
Dos corpos feitos de arminho,
Das almas feitas d’aurora.

Soletram versos e prosas
HorrĂ­veis; contudo, ao lĂȘ-las
Daquelas bocas de rosas
Saem murmĂșrios de estrela.

Contemplam de quando em quando,
E com inveja, Senhor!
As andorinhas passando
Do azul no livre esplendor.

Oh, que existĂȘncia doirada
LĂĄ cima, no azul, na glĂłria,
Sem cartilhas, sem tabuada,
Sem mestre e sem palmatĂłria!

E como os dias sĂŁo longos
Nestas prisÔes sepulcrais!
Abrem a boca os ditongos,
E as cifras tristes dĂŁo ais!

Desgraçadas toutinegras,
Que insuportĂĄveis martĂ­rios!
JoĂŁo FĂ©lix co’as unhas negras,
Mostrando as vogais aos lĂ­rios!

Como querem que despontem
Os frutos na escola aldeĂŁ,
Se o nome do mestre Ă© — Ontem
E o do discĂ­p’lo — AmanhĂŁ!

Como Ă© que hĂĄ-de na campina
Surgir o trigal maduro,
Se Ă© o Passado quem ensina
O b a ba ao Futuro!

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Recordam-se VocĂȘs do Bom Tempo d’Outrora

(Dedicatória de introdução a «A Musa em Férias»)

Recordam-se vocĂȘs do bom tempo d’outrora,
Dum tempo que passou e que nĂŁo volta mais,
Quando Ă­amos a rir pela existĂȘncia fora
Alegres como em Junho os bandos dos pardais?
C’roava-nos a fronte um diadema d’aurora,
E o nosso coração vestido de esplendor
Era um divino Abril radiante, onde as abelhas
Vinham sugar o mel na balsĂąmina em flor.
Que doiradas cançÔes nossas bocas vermelhas
NĂŁo lançaram entĂŁo perdidas pelo ar!…
Mil quimeras de glĂłria e mil sonhos dispersos,
CançÔes feitas sem versos,
E que nĂłs nunca mais havemos de cantar!
Nunca mais! nunca mais! Os sonhos e as esp’ranças
São åureos colibris das regiÔes da alvorada,
Que buscam para ninho os peitos das crianças.
E quando a neve cai jĂĄ sobre a nossa estrada,
E quando o Inverno chega Ă  nossa alma,entĂŁo
Os pobres colibris, coitados, sentem frio,
E deixam-nos a nós o coração vazio,
Para fazer o ninho em outro coração.
Meus amigos, a vida Ă© um Sol que chega ao cĂșmulo
Quando cantam em nós essas cançÔes celestes;

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