Poemas sobre Finanças de Manuel da Fonseca

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Poemas de finanças de Manuel da Fonseca. Leia este e outros poemas de Manuel da Fonseca em Poetris.

Dona Abastança

«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

FamĂ­lia necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»

Já se deixa ver
Que nĂŁo pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem nĂŁo tem
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
Que nĂŁo pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De tĂŁo estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.

Romance do Terceiro-Oficial de Finanças

Ah! as coisas incrĂ­veis que eu te contava
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!

As coisas incrĂ­veis que eu te contava
e me deixavam hirto de surpresa
na solidĂŁo da vila quieta!…
Que eu vinha alta noite
como quem vem de longe
e sabe o segredo dos grandes silĂŞncios
– os meus braços no jeito de pedir
e os meus olhos pedindo
o corpo que tu mal debruçavas da varanda!…

(As coisas incrĂ­veis eu sĂł as contava
depois de as ouvir do teu corpo, da noite
e da estrela, por cima dos teus cabelos.
Aquela estrela que parecia de propĂłsito para enfeitar os teus cabelos
quando eu ia namorar-te…)

Mas tudo isso, que era tudo para nĂłs,
nĂŁo era nada da vida!…
Da vida Ă© isto que a vida faz.
Ah! sim, isto que a vida faz!…
– isto de tu seres a esposa sĂ©ria e triste
de um terceiro-oficial de finanças da Câmara Municipal!…