TĂŁo Grande Dor
“TĂŁo grande dor para tĂŁo pequeno povo” palavras de um timorense Ă RTP
Timor fragilĂssimo e distante
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha“SĂąndalo flor bĂșfalo montanha
Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais”Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Rui Cinatti
Sentado no chĂŁo
Naquela noite em que voltara da viagemTimor
Dever que nĂŁo foi cumprido e que por isso dĂłiDepois vieram notĂcias desgarradas
Raras e confusas
ViolĂȘncias mortes crueldade
E anos apĂłs ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia – espanto prodĂgio assombro –
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanhaTimor cercado por um bruto silĂȘncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre falado
Porque nĂŁo era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercadoO cerco da surdez dos consumistas
TĂŁo cheios de jornais e de notĂciasMas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silĂȘncio
Irromperam nos Ă©crans e os surdos viram
A evidĂȘncia nua das imagens
Poemas sobre Flores de Sophia de Mello Breyner Andresen
4 resultadosPirata
Sou o Ășnico homem a bordo do meu barco.
Os outros sĂŁo monstros que nĂŁo falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E hĂĄ momentos que sĂŁo quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.A minha påtria é onde o vento passa,
A minha amada Ă© onde os roseirais dĂŁo flor,
O meu desejo Ă© o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.
A Forma Justa
Sei que seria possĂvel construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos â se ninguĂ©m atraiçoasse â proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
â Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a prĂłpria forma Ă© justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possĂvel construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universoPor isso recomeço sem cessar a partir da pågina em branco
E este Ă© meu ofĂcio de poeta para a reconstrução do mundo
Com FĂșria e Raiva
Com fĂșria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavrasPois Ă© preciso saber que a palavra Ă© sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pĂŽs sua alma confiadaDe longe muito longe desde o inĂcio
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a ĂĄgua
E tudo emergiu porque ele disseCom fĂșria e raiva acuso o demagogo
Que se promove Ă sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra