Em Cruz nĂŁo Era Acabado
As crianças viravam as folhas
dos dias enevoados
e da página do Natal
nasciam os montes prateadosda infância. Intérmina, a mãe
fazia o bolo unido e quente
da noite na boca das crianças
acordadas de repente.Torres e ovelhas de barro
que do armário saĂam
para formar a cidade
onde o menino nascia.Menino pronunciado
como uma palavra vagarosa
que terminava numa cruz
e começava numa rosa.Natal bordado por tias
que teciam com seus dedos
estradas que entĂŁo havia
para a capital dos brinquedos.E as crianças com a tinta invisĂvel
do medo de serem futuro
escreviam os seus pedidos
no muro que dava para o impossĂvel,chĂŁo de estrelas onde dançavam
a sua louca identidade
de serem no dicionário
da dor futura: saudade.
Poemas sobre Folhas de Natália Correia
3 resultadosO Livro dos Amantes
I
Glorifiquei-te no eterno.
Eterno dentro de mim
fora de mim perecĂvel.
Para que desses um sentido
a uma sede indefinĂvel.Para que desses um nome
Ă exactidĂŁo do instante
do fruto que cai na terra
sempre perpendicular
Ă humidade onde fica.E o que acontece durante
na rapidez da descida
é a explicação da vida.II
Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu Ă©s o poema
e Ă©s a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
nĂŁo compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.III
PrĂncipe secreto da aventura
em meus olhos um dia começada e finita.
Onda de amargura numa água tranquila.
Flor insegura enlaçada no vento que a suporta.
Pássaro esquivo em meus ombros de aragem
reacendendo em cadĂŞncia e em passagem
a lua que trazia e que apagou.IV
Dá-me a tua mão por cima das horas.
Quero-te conciso.
AdĂŁo depois do paraĂso
errando mais nĂtido Ă distância
onde te exalto porque te demoras.
O Livro dos Amantes
IX
Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo.