Canto Esponjoso
Bela
esta manhĂŁ sem carĂŞncia de mito,
E mel sorvido sem blasfémia.Bela
esta manhĂŁ ou outra possĂvel,
esta vida ou outra invenção,
sem, na sombra, fantasmas.Umidade de areia adere ao pé.
Engulo o mar, que me engole.
Valvas, curvos pensamentos, matizes da luz
azul
completa
sobre formas constituĂdas.Bela
a passagem do corpo, sua fusĂŁo
no corpo geral do mundo.
Vontade de cantar. Mas tĂŁo absoluta
que me calo, repleto.
Poemas sobre Forma de Carlos Drummond de Andrade
2 resultadosVĂ©spera
Amor: em teu regaço as formas sonham
o instante de existir: ainda Ă© bem cedo
para acordar, sofrer. Nem se conhecem
os que se destruirĂŁo em teu bruxedo.Nem tu sabes, amor, que te aproximas
a passo de veludo. És tão secreto,
reticente e ardiloso, que semelhas
uma casa fugindo ao arquitecto.Que presságios circulam pelo éter,
que signos de paixão, que suspirália
hesita em consumar-se, como flĂşor,
se não a roça enfim tua sandália?Não queres morder célere nem forte.
Evitas o clarĂŁo aberto em susto.
Examinas cada alma. É fogo inerte?
O sacrifĂcio há de ser lento e augusto.EntĂŁo, amor, escolhes o disfarce.
Como brincas (e és sério) em cabriolas,
em risadas sem modo, pés descalços,
no cĂrculo de luz que desenrolas!Contempla este jardim: os namorados,
dois a dois, lábio a lábio, vão seguindo
de teu capricho o hermético astrolábio,
e perseguem o sol no dia findo.E se deitam na relva; e se enlaçando
num desejo menor, ou na indecisa
procura de si mesmos,