É tão Suave a Fuga deste Dia

É tão suave a fuga deste dia,
LĂ­dia, que nĂŁo parece, que vivemos.
Sem dĂșvida que os deuses
Nos sĂŁo gratos esta hora,

Em paga nobre desta fé que temos
Na exilada verdade dos seus corpos
Nos dĂŁo o alto prĂȘmio
De nos deixarem ser

Convivas lĂșcidos da sua calma,
Herdeiros um momento do seu jeito
De viver toda a vida
Dentro dum sĂł momento,

Dum sĂł momento, LĂ­dia, em que afastados
Das terrenas angĂșstias recebemos
OlĂ­mpicas delĂ­cias
Dentro das nossas almas.

E um sĂł momento nos sentimos deuses
Imortais pela calma que vestimos
E a altiva indiferença
Às coisas passageiras

Como quem guarda a c’roa da vitĂłria
Estes fanados louros de um sĂł dia
Guardemos para termos,
No futuro enrugado,

Perene Ă  nossa vista a certa prova
De que um momento os deuses nos amaram
E nos deram uma hora
NĂŁo nossa, mas do Olimpo.