Natal
Mais uma vez, cĂĄ vimos
Festejar o teu novo nascimento,
NĂłs, que, parece, nos desiludimos
Do teu advento!Cada vez o teu Reino Ă© menos deste mundo!
Mas vimos, com as mĂŁos cheias dos nossos pomos,
Festejar-te, â do fundo
Da miséria que somos.Os que à chegada
Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,
Somos â nĂŁo uma vez, mas cada â
Teus assassinos.Ă tua mesa nos sentamos:
Teu sangue e corpo Ă© que nos mata a sede e a fome;
Mas por trinta moedas te entregamos;
E por temor, negamos o teu nome.Sob escĂĄrnios e ultrajes,
Ao vulgo te exibimos, que te aclame;
Te rojamos nas lajes;
Te cravejamos numa cruz infane.Depois, a mesma cruz, a erguemos,
Como um farol de salvação,
Sobre as cidades em que ferve extremos
A nossa corrupção.Os que em leilão a arrematamos
Como sagrada peça Ășnica,
Somos os que jogamos,
Para comĂ©rcio, a tua tĂșnica.Tais somos, os que, por costume,
Vimos, mais uma vez,
Poemas sobre Fundo de José Régio
2 resultadosNasceu um Menino
Nasceu, nasceu um Menino,
Nasceu um Menino mais,
No bercinho pouco fino
Das palhas duns animais!Que num vil curral por quarto
E entre uns pedregulhos nus,
Teve a santa dor do parto
A Mulher que o deu Ă luz.Mas de cada vez, no mundo,
Que mais um ser aparece,
Quem pode descer ao fundo
Do que o Destino nos tece?Ă hora em que Este chegava,
LĂĄ para um cerro distante,
Por cada fibra chorava
Una velho cedro gigante.Chorava porque sabia
Que em seu peito condenado
Aquele Menino, um dia,
Seria crucificado.Ora cada vez, no mundo,
Que nasce mais um Menino,
Quem pode descer ao fundo
Do que nos tece o Destino?Jå, pelos céus fora, um astro
Descendo sobre o curral,
Abre para sempre um rastro
De alvor sobrenatural.E o velho cedro, que chora
Porque se julga precito,
Pelos séculos em fora
Serå sagrado e bendito.Que abertos pelos espaços,
No azul sereno e profundo,