Poemas sobre Gente de Fernando Pessoa

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Poemas de gente de Fernando Pessoa. Leia este e outros poemas de Fernando Pessoa em Poetris.

Vaga, no Azul Amplo Solta

Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado nĂŁo volta.
NĂŁo Ă© o que estou chorando.

O que choro Ă© diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou Ă  saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

NĂŁo sei o que Ă© nem consinto
Ă€ alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.

Já não me importo

Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento Ă© ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que Ă© sem ar
De olhar a valer.

E sĂł me nĂŁo cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

Tenho Tanto Sentimento

Tenho tanto sentimento
Que Ă© frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso Ă© pensamento,
Que nĂŁo senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que Ă© vivida
E outra vida que Ă© pensada,
E a Ăşnica vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Tenho pena e nĂŁo respondo

Tenho pena e nĂŁo respondo.
Mas nĂŁo tenho culpa enfim
De que em mim nĂŁo correspondo
Ao outro que amaste em mim.

Cada um Ă© muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros – cada um sente
O que julga, e Ă© um erro imenso.

Ah, deixem-me sossegar.
NĂŁo me sonhem nem me outrem.
Se eu nĂŁo me quero encontrar,
Quererei que outros me encontrem?

Chove. É Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda Ă© pior.

E toda a gente Ă© contente
Porque Ă© dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal nĂŁo.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.