Mãe
I
Dantes, quando a deixava,
As férias já no fim,
Ela vinha à janela
Despedir-se de mim.Depois, quando na estrada,
Olhava para trás,
Deitava-me ainda a benção
Para que eu fosse em paz.Dali não se movia,
À vidraça encostada,
Até que eu me perdia
Já na curva da estrada.Hoje, se olho, calo-me
E baixo os olhos meus!
Já não vem à janela
Para dizer-me adeus!II
Chove, e a chuva é fria.
Noite! Nos montes distantes
O Inverno principia.
Um Inverno como dantes.Ao redor do lume aceso
Todos ficamos a olhar…
Todos não, não somos todos,
Porque há vazio um lugar.Esse lugar era o dela,
Que ninguém mais preencheu.
Mesmo com vida, na terra,
Era uma estrela no céu.
Poemas sobre Hoje de Alfredo Brochado
2 resultados Poemas de hoje de Alfredo Brochado. Leia este e outros poemas de Alfredo Brochado em Poetris.
Ciúme
Vão decorrendo as horas, vão-se os dias,
Mas como outrora ela não vem. Ciúme?
Olho em redor de mim, meu pobre lume,
São tudo cinzas mortas, cinzas frias.Bateu o relógio as horas do costume,
E tu não vens, já não te vejo mais…
Dos nossos dias, vivos, triunfais,
Só restam coisas mortas e sombrias.Não sei que mágoa e dor meus olhos cobre.
Sinto que alguém morreu dentro de mim.
Bate o relógio as horas, como um dobre,
A dizer, a dizer: tudo tem fim.Vai a tarde a morrer, e um frio imenso
Cai sobre mim como um Pólo de gelo.
Junto de ti, quem estará, eu penso,
A beijar, em silêncio, o teu cabelo?Nessas tardes, assim, vagas, sensuais,
Eu não quero pensar um só momento.
Se foram minhas, hoje são dos mais…
Deixo-as morrer no frio esquecimento.