Poemas sobre Hoje de Eugénio de Andrade

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Poemas de hoje de Eugénio de Andrade. Leia este e outros poemas de Eugénio de Andrade em Poetris.

Pequena Elegia Chamada Domingo

O domingo era uma coisa pequena.
Uma coisa tĂŁo pequena
que cabia inteirinha nos teus olhos.
Nas tuas mĂŁos
estavam os montes e os rios
e as nuvens.
Mas as rosas,
as rosas estavam na tua boca.

Hoje os montes e os rios
e as nuvens
nĂŁo vĂŞm nas tuas mĂŁos.
(Se ao menos elas viessem
sem montes e sem nuvens
e sem rios…)
O domingo está apenas nos meus olhos
e Ă© grande.
Os montes estĂŁo distantes e ocultam
os rios e as nuvens
e as rosas.

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou nĂŁo chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inĂşteis.

Meto as mĂŁos nas algibeiras e nĂŁo encontro nada.
Antigamente tĂ­nhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Ă€s vezes tu dizias: os teus olhos sĂŁo peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possĂ­veis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje sĂŁo apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.

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