Infinitude dos Amantes
Se até agora ainda não possuo todo o teu amor,
Querida, nunca o terei de todo.
NĂŁo posso soltar mais um suspiro, comover-me,
Nem suplicar a mais outra lágrima que corra;
E todo o meu tesouro, que deveria comprar-te —
Suspiros, lágrimas, juras e cartas — já gastei.
Porém, nada mais me poderá ser devido,
Além do proposto no negócio acordado:
Se então a tua dádiva de amor foi parcial,
Que parte a mim, parte a outros, caberia,
Querida, nunca te possuirei totalmente.Mas, se entĂŁo me deste tudo,
Tudo seria apenas o tudo que ao tempo tinhas;
E se em teu coração, desde então, existe ou venha
A existir novo amor gerado por outros homens,
Cujos haveres estejam intactos e possam, em lágrimas,
Em suspiros, em juras e cartas, exceder a minha oferta,
Este novo amor pode suscitar novos receios,
Dado que um tal amor nĂŁo foi jurado por ti.
Mas se foi, sendo as tuas dádivas gerais,
O terreno — o teu coração —, é meu, e o que quer
Que nele cresça, querida, pertence-me totalmente.
Poemas sobre Homens de John Donne
4 resultadosO Amor Limitado
Algum homem indigno de ser possuidor
De amor velho ou novo, sendo ele prĂłprio falso ou fraco,
Pensou que a sua dor e vergonha seriam menores
Se a sua ira sobre as mulheres descarregasse.
E entĂŁo uma lei nasceu:
Que cada uma um sĂł homem conhecesse.
Mas sĂŁo assim as outras criaturas?SĂŁo o sol, a lua, as estrelas proibidos por lei
De sorrir para onde lhes apetece, ou de esbanjar a sua luz?
Divorciam-se os pássaros, ou são censurados
Se abandonam o seu par, ou dormem fora uma noite?
Os animais não perdem as suas pensões
Ainda que escolham novos amantes,
Mas nós fizémo-nos piores do que eles.Quem já armou belos navios para ancorar nos portos,
Em vez de buscar novas terras, ou negociar com todos?
Ou construiu belas casas, plantou árvores e arbustos,
Apenas para as trancar, ou então deixá-los cair?
O Bom nĂŁo Ă© bom, a nĂŁo ser
Que mil coisas possua,
Mas arruĂna-se com a avidez.Tradução de Helena Barbas
O Sonho
Amor querido, por nada menos que tu
Teria eu interrompido este sonho feliz:
Era um tema
Para a razĂŁo, demasiado forte para fantasia.
Portanto, sabiamente, me acordaste; porém
O meu sonho nĂŁo terminou, continuou contigo.
És tão verdadeira que bastam os pensamentos de ti
Para tornar sonhos realidade, fábulas em história.
Vem a meus braços, pois se pensaste ser melhor
Que não sonhasse todo o meu sonho, concretizemos o resto.Como o relâmpago, ou a luz da vela,
Teus olhos, e nĂŁo o teu ruĂdo, me acordaram;
Porém pensei que eras
(Tu que amas a verdade) um Anjo — à primeira vista.
Mas quando vi que vias o meu coração
E os meus pensamentos, para além da arte do anjo,
Como sabias do meu sonho, como sabias quando
O excesso de gozo me acordaria, e entĂŁo vieste,
Devo confessar que no mĂnimo, seria
Ultrajante, pensar-te outra coisa que nĂŁo tu.Vindo e ficando mostrou-me que tu Ă©s tu.
Mas o levantares-te faz-me duvidar, e temo agora
Que tu já não sejas tu.
E fraco o amor quando o medo Ă© tĂŁo forte como ele;
O Indiferente
Posso amar tanto louras como morenas,
A que cede à abundância e a que trai por pobreza,
A que busca a solidĂŁo e a que se mascara e brinca,
Aquela que o campo cultivou e a da cidade,
A que acredita, e a que hesita,
A que ainda lacrimeja com olhos esponjosos,
E a rolha seca que nunca chora.
Eu posso amar essa e esta, e tu, e tu,
Posso amar qualquer uma, desde que nĂŁo seja leal.Nenhum outro vĂcio vos satisfará?
Não vos será útil fazer como as vossas mães?
Ou, gastos todos os velhos vĂcios, inventaram novos?
Ou atormenta-vos o medo de que os homens sejam fiéis?
Oh, não o somos, não o sejais vós também,
Deixai-me conhecer, eu e vĂłs, mais de vinte.
Roubem-me, mas nĂŁo me prendam, deixai-me ir.
Devo eu, que vim a estas dores através de vós
Tornar-me vosso fiel súbdito, porque sois leais?Vénus ouviu-me suspirar esta canção,
E pela maior doçura do amor, a variedade, jurou
Que a não ouvira até então, e não mais seria assim.
E foi-se,