Como se Morre de Velhice
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
nĂŁo tem eco, na ausĂȘncia imensa.Na ausĂȘncia, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estĂmulo ou recompensa
onde o amor equivale Ă ofensa.De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.(Jå não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
Poemas sobre Iguais de CecĂlia Meireles
3 resultadosLei
O que Ă© preciso Ă© entender a solidĂŁo!
O que Ă© preciso Ă© aceitar, mesmo, a onda amarga
que leva os mortos.O que Ă© preciso Ă© esperar pela estrela
que ainda não estå completa.O que é preciso é que os olhos sejam cristal sem névoa,
e os lĂĄbios de ouro puro.O que Ă© preciso Ă© que a alma vĂĄ e venha;
e ouça a notĂcia do tempo,
e. entre os assombros da vida e da morte,
estenda suas diĂĄfanas asas,
isenta por igual.
de desejo e de desespero.
SugestĂŁo
Sede assim â qualquer coisa
serena, isenta, fiel.Flor que se cumpre,
sem pergunta.Onda que se esforça,
por exercĂcio desinteressado.Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados jå frios.Também como este ar da noite:
sussurrante de silĂȘncios,
cheio de nascimentos e pétalas.Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E Ă nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.Ă cigarra, queimando-se em mĂșsica,
ao camelo que mastiga sua longa solidĂŁo,
ao pĂĄssaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocĂȘncia para a morte.Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.NĂŁo como o resto dos homens.